SOMENTE MEU
A boneca era dela
Todos sabiam disso
A menina com firmeza a segurava
Enquanto a outra soluçava
E tinha outros brinquedos também
Que ninguém ousasse tocar
Ganhou-os, nem lembrava de quem
Mas era dela, e só dela.
Quantas vezes da amiga escondia
O que de bom consigo trazia
A outra desenganada sorria
Um profundo pesar sentia
Da menina que pouco sorria
E a tristeza que ela não sabia
Estava por vir um dia
E assim foi crescendo a menina
Que a boneca ninguém ousara tocar
De que lhe serve o brinquedo intácto
Sem histórias de amor pra contar?
É uma página de caderno em branco
Que o grafite não ousou rabiscar
Sem memórias de valor pra lembrar
A menina hoje chora sozinha
Relembrando a vida que tinha
O tempo que passa é água de rio
Na alma sente apenas arrepio
Não lhe importa o comportamento arredio
Não sente calor e não sente frio
O coração sem nenhum elogio
Vivendo no mundo um completo vazio
Uma tristeza de dar calafrio.