Improvável
Ele é um jardim arranjado
Não olha para os lados
Coleciona fotos do passado
Segue o destino que lhe foi dado.
Ela desarruma os cabelos
Se colore no espelho
Anda nua pela casa
E rir com os olhos
Embaixo do chuveiro
Ele arruma sua bagunça
Seus sapatos e suas lembranças
Ele é temperamental
E gosta de ler jornal
Ela fala com os botões
Conta de sua introversão
Pensa que não há mal nenhum
Em não querer ser de ninguém
Nessa vida que se tem.
Enquanto ele fala de música
Ela quer senti-la
Ele não ouve sua sintonia
Nem sabe a febre que sente
Toda noite exilada
Ele é tão poliglota
Mas não entende sua alma
Ele não vê seus sintomas
Quando ela arde em chamas
Ele entoa muito bem o violão
Sabe como ninguém, tocar uma canção
Mas ela inquieta
Quer um pouco de atenção
Ele se embriaga de cerveja e vinho
Ela toma café para acordar
Abre a porta para o sol entrar
E sabe quando a lua cheia vai se renovar
Ele vive um ritual
Tão formal de vida social
Sabe quando vai chover
E olha as horas a cada amanhecer
Ela é improvável
Segue o crepitar
Sempre que vai embora
Ele espera ela voltar