algum sol, algum sal.

o sal dessa lágrima

é amargo

e é parte da borrasca que

engoliu muitas cabeças

o sal dessa lágrima

veio de uma duna errante

sem deserto,

sem areia

só feita de devaneios e

desesperos

de dúvidas e apelos.

o sal dessa lágrima

arde nos olhos a visão

do que é real e ponteagudo

do que é ilusório e trôpego

e cai na imensa tristeza

infecta de alma

lava-me, digo para a lágrima

queima-me, o navio amarrado no cais

redimi-me de minha dor,

da cor das trevas

das incertezas certas

das servas libertárias

que arrastam grilhões

pelo corredor da história

o sal dessa lágrima

vem do mar,

vem dessa maresia intrínseca

a corroer tudo por dentro,

a percorrer metabolismo,

a corromper metafísica

a deslindar a lógica

recheada de dialética.

depois de verter essa lágrima

meu rosto não será meu

minha dor não será mais minha

transfigurada e liberta

terei outros olhos ainda úmidos

que procuram um foco ,

uma lente, qualquer imagem

e algum sol...

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 28/08/2007
Código do texto: T628340
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