algum sol, algum sal.
o sal dessa lágrima
é amargo
e é parte da borrasca que
engoliu muitas cabeças
o sal dessa lágrima
veio de uma duna errante
sem deserto,
sem areia
só feita de devaneios e
desesperos
de dúvidas e apelos.
o sal dessa lágrima
arde nos olhos a visão
do que é real e ponteagudo
do que é ilusório e trôpego
e cai na imensa tristeza
infecta de alma
lava-me, digo para a lágrima
queima-me, o navio amarrado no cais
redimi-me de minha dor,
da cor das trevas
das incertezas certas
das servas libertárias
que arrastam grilhões
pelo corredor da história
o sal dessa lágrima
vem do mar,
vem dessa maresia intrínseca
a corroer tudo por dentro,
a percorrer metabolismo,
a corromper metafísica
a deslindar a lógica
recheada de dialética.
depois de verter essa lágrima
meu rosto não será meu
minha dor não será mais minha
transfigurada e liberta
terei outros olhos ainda úmidos
que procuram um foco ,
uma lente, qualquer imagem
e algum sol...