SOLIDÃO A DOIS
É ter alguém e não ter ninguém
É ver um vazio num espaço
E sentir falta do aconchego de um abraço
É ter alguém com quem falar
E não ter ninguém para conversar
É ter (aparentemente) uma família
E se sentir sozinho numa ilha
É ter alguém para dar e receber amor
E viver num mundo de desamor
É estar em meio a multidão
E sentir no interior uma inquietação
Que mexe com a mente e o coração
É andar angustiada pela casa
Intencionando voar sem ter asas
Muitas vezes, agindo feito louca
Querendo quebrar tudo
E até rasgar as roupas
O que adianta tanto conforto
Estar vivo, se sentindo morto?
É ver o anoitecer e o amanhecer
E ver a vida passar, sem perceber
É a ausência de tudo
Num mundo de surdo e mudo
Quando um fala e o outro não quer ouvir
Dá vontade de largar tudo e sumir
Pessoas que não se vêem e nem se tocam
Não se enxergam e nenhum carinho trocam
É a tal da solidão a dois
Onde tudo fica pra depois
E assim, a vida vai passando
Dois seres o mesmo espaço ocupando
É uma existência sem sentido
E um universo sendo destruído
Se ofendem e se desrespeitam.
Com atitudes que se estreitam
E assim, vão sobrevivendo nesse meio
Mas a Palavra de Deus diz:
Que a boca só fala
Quando o coração está cheio.
Sandra Leone