Surdez Silenciosa

Fiquei surdo

Depois de tanto ouvir

Meu próprio silêncio

Nem mesmo minha imaginação

Pode criar ruidosos sons

A fim de matar

Esta estranha surdez

Grito comigo mesmo

Por ter deixado meus ouvidos

Se deitarem em camas

Isoladas do caos

E terem dormido com cobertores

Que lhe deram controle

E travesseiros emplumados

Capazes de banir

A loucura do mundo

E deixá-los intangíveis

Como virgens celestiais

Tento sair

Deste tormento

Que me mantém cativo

Feito um animal em uma jaula

Porém a saída se mistura

Com outros caminhos

Que me levam ao início

Feito um cruel labirinto

Peço ajudar para sair

Do círculo que me sufoca

E me chuta para o centro do furacão

Os braços

Reduzidos a ossos

Clamam ao Senhor

Uma salvação deste espaço

Tão asqueroso

Quanto os monstros

Que queimam sob sua luz

Ele não me escuta

Minha fala apresenta

O cansaço de uma vida inteira

Mesmo que pela secura garganta

Não conseguia sentir nenhum sinal de uso

O silêncio grita dentro da cabeça

O crânio se despedaça

Pedaço por pedaço

Tecido por tecido

Célula por célula

Revelando o conteúdo

De seu atormentado

Interior

Espalhando-se

Em milhões de pedaços

Pequenos o bastante

Para escaparem

Das desesperadas garras

Largado ao chão

Imóvel

Inanimado

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 23/02/2018
Código do texto: T6262366
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.