Surdez Silenciosa
Fiquei surdo
Depois de tanto ouvir
Meu próprio silêncio
Nem mesmo minha imaginação
Pode criar ruidosos sons
A fim de matar
Esta estranha surdez
Grito comigo mesmo
Por ter deixado meus ouvidos
Se deitarem em camas
Isoladas do caos
E terem dormido com cobertores
Que lhe deram controle
E travesseiros emplumados
Capazes de banir
A loucura do mundo
E deixá-los intangíveis
Como virgens celestiais
Tento sair
Deste tormento
Que me mantém cativo
Feito um animal em uma jaula
Porém a saída se mistura
Com outros caminhos
Que me levam ao início
Feito um cruel labirinto
Peço ajudar para sair
Do círculo que me sufoca
E me chuta para o centro do furacão
Os braços
Reduzidos a ossos
Clamam ao Senhor
Uma salvação deste espaço
Tão asqueroso
Quanto os monstros
Que queimam sob sua luz
Ele não me escuta
Minha fala apresenta
O cansaço de uma vida inteira
Mesmo que pela secura garganta
Não conseguia sentir nenhum sinal de uso
O silêncio grita dentro da cabeça
O crânio se despedaça
Pedaço por pedaço
Tecido por tecido
Célula por célula
Revelando o conteúdo
De seu atormentado
Interior
Espalhando-se
Em milhões de pedaços
Pequenos o bastante
Para escaparem
Das desesperadas garras
Largado ao chão
Imóvel
Inanimado