Sobre Tristezas e Sereias
Navegar no barco sereno da saudade
Sabendo que afundar
É tarefa primordial das ondas.
Por isso se tem lugar para um só.
Remar sozinho me leva mais longe
Ao topo mais calmo do oceano, talvez,
Assistir o sol morrer depois das seis.
Sim, navego em águas turbulentas
E sei que meu fluxo não tem direção.
No final das contas, afundei tantas vezes
Que submarino deveria ser minha embarcação.
E não uma canoa.
No fundo do mar eu caminho sem rumo
Danço com baleias
E me apaixono por sereias
Que partem seus corações
Todas as vezes que me vêem partir.
Elas tentaram me dar brônquias
Ao invés de pulmões,
Guardaram meu fôlego em uma caixa
Brilhante e redonda
Como promessa fiel de um compromisso eterno.
Disseram que minhas pernas não seriam problema,
Contando que eu ainda tivesse um coração.
Se ele é à prova d’água, eu não sei.
Mas já não bate tão forte
Pois meu pulsar caminha sozinho
E ele me diz toda manhã, bem baixinho
Que quer parar.
Eu poderia viajar livre
Por todos os mares
E ter um trono bonito
No fundo do oceano azul.
Devolver corpos naufragados
Aos amores que os esperavam retornar,
Por uma vida toda, quem sabe.
Esconder tesouros descobertos,
Caminhar sobre rochas magmáticas
Sem se preocupar com a possibilidade de ter os pés queimados
Pois o ígneo não fere mais do que os anos solitários
Que vivi acima das águas.
Aqui em baixo a saudade não existe
E eu posso encontrar um novo amor
A cada esquina.