PISCAR OS OLHOS
Cinquenta minutos de espera
na ordem voraz da fila de um banco
até captar o imprescindível alívio
do talão quitado.
O fluxo foi possível
e após a apreensão,
entrar no transporte atochado,
cinquenta passageiros invocam
a precisão pelo respiro,
pelos pulmões antigos
que me retornam
diante da parada escolhida.
Eis o mundo ao meu redor,
a tarde quente,
a vida em dormitórios;
por um momento não jantar,
por um momento este bairro pobre
surge-me outra vez cor de rosa
na sequência de problemas,
que são solavancos,
como olhos piscantes são trancos
e os instantes vencem.
Cada piscadela minha mostra agora
o pouco alcance dos débitos,
ônibus lotados, calor
e outros bruxismos...
Meus olhos piscam brutalmente
rumo ao último instante vitorioso,
meu rosto enfim renascido, intacto
e por isto o sinto.
Prossigo mais calmo.
Moro na região da Penha.
LIVRO: "A CIDADE POSSÍVEL"