Âmago

O corpo que em mim reside, dói.

Cada milímetro ou decímetro ao cubo insiste em negar o não ser.

Talvez tudo se resuma a uma seleção errônea de afetos,

Introduzidos ou absorvidos pela sombra esquecida do menino latente.

Silhueta sem brilho

Que vaga sozinha na alma carente.

O sangue apenas flui, porque é só isso que se espera dele.

Os pulmões ventilam á base das expectativas estrategicamente frustradas,

E o ar beija as narinas que me aproximam daquilo que desconheço.

O pulso não para porque, não ser, simplesmente não é possível.

Eu sou um recipiente de segunda mão.

Do que sou feito, ainda não sei,

Um vidro falso, talvez,

Moldado em forno frio e resistente a interpérios de um coração cortês.

Gemidos incólumes, amores recônditos e algumas noites vazias.

Uma inspiração sufocada por mordaças,

Que só é bela no plano longínquo das ideias.

Afinal de contas, elas se derretem ao som das cordas dançantes,

E eu não sei tocar violão.

Tornam-se plenas nas vicissitudes do verbo amar,

Mal sabem que coração morto é aquele que pulsa sem razão,

Elas gostam de poesia,

Só que eu assassinei o poeta; ou suas próprias rimas o fizeram, então.

O Não Poeta
Enviado por O Não Poeta em 28/01/2018
Reeditado em 29/01/2018
Código do texto: T6238646
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