Âmago
O corpo que em mim reside, dói.
Cada milímetro ou decímetro ao cubo insiste em negar o não ser.
Talvez tudo se resuma a uma seleção errônea de afetos,
Introduzidos ou absorvidos pela sombra esquecida do menino latente.
Silhueta sem brilho
Que vaga sozinha na alma carente.
O sangue apenas flui, porque é só isso que se espera dele.
Os pulmões ventilam á base das expectativas estrategicamente frustradas,
E o ar beija as narinas que me aproximam daquilo que desconheço.
O pulso não para porque, não ser, simplesmente não é possível.
Eu sou um recipiente de segunda mão.
Do que sou feito, ainda não sei,
Um vidro falso, talvez,
Moldado em forno frio e resistente a interpérios de um coração cortês.
Gemidos incólumes, amores recônditos e algumas noites vazias.
Uma inspiração sufocada por mordaças,
Que só é bela no plano longínquo das ideias.
Afinal de contas, elas se derretem ao som das cordas dançantes,
E eu não sei tocar violão.
Tornam-se plenas nas vicissitudes do verbo amar,
Mal sabem que coração morto é aquele que pulsa sem razão,
Elas gostam de poesia,
Só que eu assassinei o poeta; ou suas próprias rimas o fizeram, então.