Segunda pele
Eu me acostumei com as cicatrizes,
em alto relevo aqui dentro,
o jeito frio como me auto descrevo
são detalhes de como pinto meus dias tristes.
Perdi as contas, as horas.
Me vi escorrer incolor pelo box
empenhado em sentir tudo à sós
dedicado a dar desculpas tolas.
Ouço vozes calmas
entre o engolir da saliva
e o medo de tudo que me irrita,
sinto paz e ouço palmas.
Se pudesse faria morada
debaixo dessa cachoeira quente
onde me revisito permanentemente
e saio sorrindo de cara lavada.
Gosto desse silêncio
que reside no meu vazio
parece que me acolhe, protege do frio
me dá guarida e conforto pleno.
Se pudesse seria feliz
mas felicidade não é escolha,
é sorte de pessoa boa,
é penitência de pessoas sutis.
Daqui consigo sentir o nada
ele é claro e transparente
parece brasa encandescente
gostoso como uva-verde açucarada.
Há dias que ombro amigo não basta,
a música é inimiga abrupta,
e o sono tem cheiro de morte-súbita.
Nesses dias a boca sorri e descansa, plástica.
Dario Vasconcelos