Segunda pele

Eu me acostumei com as cicatrizes,

em alto relevo aqui dentro,

o jeito frio como me auto descrevo

são detalhes de como pinto meus dias tristes.

Perdi as contas, as horas.

Me vi escorrer incolor pelo box

empenhado em sentir tudo à sós

dedicado a dar desculpas tolas.

Ouço vozes calmas

entre o engolir da saliva

e o medo de tudo que me irrita,

sinto paz e ouço palmas.

Se pudesse faria morada

debaixo dessa cachoeira quente

onde me revisito permanentemente

e saio sorrindo de cara lavada.

Gosto desse silêncio

que reside no meu vazio

parece que me acolhe, protege do frio

me dá guarida e conforto pleno.

Se pudesse seria feliz

mas felicidade não é escolha,

é sorte de pessoa boa,

é penitência de pessoas sutis.

Daqui consigo sentir o nada

ele é claro e transparente

parece brasa encandescente

gostoso como uva-verde açucarada.

Há dias que ombro amigo não basta,

a música é inimiga abrupta,

e o sono tem cheiro de morte-súbita.

Nesses dias a boca sorri e descansa, plástica.

Dario Vasconcelos

Dario Vasconcelos
Enviado por Dario Vasconcelos em 23/01/2018
Código do texto: T6234228
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