Jamais me escutarás
Muita claridade magoa meus olhos,
morcegos acostumam-se às escuridão,
mantêm suas almas nas sombras,
vivem de noite em noite sem estrelas,
nenhuma vela para acender no candeeiro,
nenhuma prece para depositar sobre um altar,
nada que possa ser dito sem palavras,
nada que possa ser lido sem olhos julgadores,
por isso tudo o que faço é fugir de mim mesmo,
percorrer meus íngremes caminhos internos,
saltar para o fundo do meu abismo,
escondendo-me em recônditos perdidos,
porque afinal sei que jamais me escutarás...
Muita bondade assusta minha frieza,
corvos acostumam-se ao ritual de solidão,
mantêm seus espíritos em livros antigos,
nenhuma carta para enviar para uma caixa postal,
nenhum e-mail para abrir no silêncio da madrugada,
nada que possa ser escrito sobre perdão e amor,
nada que possa restaurar passados destruídos,
por isso tudo o que faço é cair no infinito,
sorver a dor que me consome integralmente,
sorrir para meu próprio demônio caseiro,
abrigando-me em casas assombradas,
porque afinal sei que jamais me escutarás...