toda gente
toda gente sua frio
que treme de medo
que tem pernas bambas
repletas de veias e dor,
que é feio, desdentado
sujo e fedorento
é também ser humano,
não duvide
e, ainda tem o insível direito
à sua dignidade
toda gente que sente fome,
sede ou frio,
que é carente de afeição
que precisa de socorro, consolo
ou mera atenção
está frágil , sofre e depois fica forte
é também ser humano
e tem direito ostensivo a existir
Não há dignidade em migalhas
em trapos,
em restos dispersos no lixo,
nos hospitais públicos
nas praças cercadas
Na pia batismal da miséria
onde se despe o homem,
retirar-lhe cirurgicamente a alma
e a dignidade
nasce a violência
onde a rua é sarjeta cotidiana
onde o próximo é ofensor e o alvo
onde uma criança não ousa brincar,
sorrir e sobreviver.
Não se engane por mais que levem tudo
nunca conseguirão eliminar
a essência humana desse mundo
o mundo está definitivamente impregnado
da humanidade
e está no CTI
à espera da única cura possível:
a compaixão,
a poesia de todos os dias,
daqueles que nunca calam.