Triste solo de piano
Madrugada que chama,
na fogueira que crepita,
espanta vaga-lumes,
risca um soneto de solidão,
rodeando um universo vazio,
ouça, "não há amor que perdure",
a dor que nos toma é tão maior,
a perda tão real e inacreditável,
viés de um rio que se rasga na alma,
triste sapateado num palco sem audiência,
buscando razões para loucura,
quando só se quer alívio,
entorpecimento para o calor,
que queima nossas entranhas,
tão profundo quanto um abismo,
sentidos perdidos colhidos,
colididos com olhares cindidos,
esperando um aceno,
esperança que esmaece,
na flor que murcha num copo,
água pouca para tantas lágrimas,
sol de outono que inverna a vida,
apenas esqueça tudo e finja,
finja que não é mais quem foi,
finja ser apenas quem jamais será,
escondas, tranque, silencie,
ouça, "amores são ilusões cruéis",
torpe sofrimento de bobos da corte,
ferida eterna que jamais cicatriza,
tudo ao mesmo tempo,
apenas feche os olhos e deixe passar,
talvez acorde em outro mundo,
talvez em outra existência,
não tenho respostas para o agora,
apenas esse solo de piano,
essa triste melodia que nos acompanha...