NÃO ME VEJO
De repente me olho e não me vejo;
Me procuro e não me acho,
Não me encacho,
Me escracho.
Fico perdido em meio ao ato de estar solto,
Solto ao léu, ao mel, ao fel e ao acaso,
Jogado a sorte, ao ser forte, fraco e ao acontecer;
Como folha seca caída ao lado, e soprada pelo vento;
Que leva e trás; vira e revira a folha seca que sou!
Olhos apáticos, me olham; me miram e se deixam perder de vista;
Olhos firmes, e quem sabe, até consternados por quem eu sou,
Mas, são olhos a me olhar; e ver o quão me procuro e não me acho.
Um fitar; um olhar, um pensar, e eu acordo;
Madrugada longa, dia curto, são minutos após minutos; a esperar...
Longa a insônia, maestral é o amanhecer e o seguir em busca de mim mesmo,
Encher-se de vontade, coragem, acreditar;
Romper com os nãos, estender as mãos;
E apenas olhar; ouvir, buscar no olfato o fato;
Degustar o perfume, saborear o que as narinas podem capitar;
Invadir pelos olhos, e sentir os olhos invadirem;
O pulsar clama, acende a chama;
O corpo chama, mas também reclama...
Não me vejo; e não me encontro e perdido estou.