Refém

Abro a janela

Vejo a rua deserta

Não ouço mais seresta

Nem conversas no portão

As calçadas vazias

Na noite fria

Alguém assobia

Uma triste canção

Sinto-me abandonado

Em um velho casarão

Sei que sou o culpado

Ando estressado

Não passa um padeiro

Para vender-me um pão

Ele também trazia noticias

Das festas e das brigas

De amor e separação

Mas tudo mudou

O celular é o senhor

Da comunicação

Basta Pedir

Tudo vem a suas mãos

A pizza

O bombeiro

Não precisa nem dinheiro

Ele transfere ligeiro

Basta a sua autorização

E assim

Vamo-nos acomodando

Entra ano e sai ano

Não visitamos mais os irmãos

Só enviamos mensagens

No máximo uma ligação

Assistimos filmes em casa

Quando vamos a praça

Tentando encontrar

Algum conhecido

Encontramos é bandido

Promovendo terror

E fazendo arrastão

Por isso ficamos em casa

Entediados e sem graça

Reféns da criminalização

José Paraguassú
Enviado por José Paraguassú em 08/11/2017
Reeditado em 09/11/2017
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