Refém
Abro a janela
Vejo a rua deserta
Não ouço mais seresta
Nem conversas no portão
As calçadas vazias
Na noite fria
Alguém assobia
Uma triste canção
Sinto-me abandonado
Em um velho casarão
Sei que sou o culpado
Ando estressado
Não passa um padeiro
Para vender-me um pão
Ele também trazia noticias
Das festas e das brigas
De amor e separação
Mas tudo mudou
O celular é o senhor
Da comunicação
Basta Pedir
Tudo vem a suas mãos
A pizza
O bombeiro
Não precisa nem dinheiro
Ele transfere ligeiro
Basta a sua autorização
E assim
Vamo-nos acomodando
Entra ano e sai ano
Não visitamos mais os irmãos
Só enviamos mensagens
No máximo uma ligação
Assistimos filmes em casa
Quando vamos a praça
Tentando encontrar
Algum conhecido
Encontramos é bandido
Promovendo terror
E fazendo arrastão
Por isso ficamos em casa
Entediados e sem graça
Reféns da criminalização