Aos solitários
Me deixem sozinha, para me lembrar que sempre estive sozinha...
Cheguei o mais rápido que pude, pensando ter alguma companhia.
E cheguei bem acompanhada: pela solidão, minha amiga...
Sem saber o que fazer, apenas esperei, esperei... inocência minha.
Aquele pensamento, aquele sussurro, na minha direção caminha...
Não sei mais onde está minha mente: se na realidade, ou na fantasia.
Se você estivesse no meu lugar, o que faria?
Pois eu estou sempre atrás, mas você, sempre acima.
Me deixem pensando quantos minutos estão passando agora.
Não sei mais para onde olhar, só vejo a chuva lá fora...
Meu corpo está aqui, mas meu desejo é ir embora...
Digo a mim mesma: gente grande não chora.
No fundo, o problema não é a demora...
Não é o frio, e nem o passar das horas...
O problema é aquela minha semente, que nunca brota...
O desejo de agir que morre na praia, tão logo se afoga.
Mais do que querer ir atrás, é esperar vir...
Pois só vou, porque quero aqui.
E essa espera dura um tempo sem fim...
Mas talvez o tempo, agora, não tenha valor para mim.
Quanto tempo falta para tudo isso passar?
Meu sentimentos, do rio, agora desaguam no mar.
Como conseguirei, ainda, por mais um ano levar?
Desde que nasci, não posso mais parar de andar.
Preciso de ajuda, mas não quero a ajuda de ninguém...
Qualquer ser humano ainda estaria muito aquém...
Mas os meus anjos sempre estão muito além...
Até agora apenas oro e digo: "Amém".
Minhas forças todos os dias fluem de algum lugar.
Era como se eu já não pudesse mais aguentar.
Mesmo a cada dia sem nada falar,
Sei que ainda posso assim continuar.
Este poema não tem fim (nem começo)...
(seja lá para onde for...)
Ele veio do nada, e logo o esqueço...
(como o amor...)
Toda arte, na vida, tem seu devido preço...
(e valor...)
E eu sempre pago, mas aos solitários ofereço.
(peguem minha dor.)