Meio Viva

Será pecado querer morrer,

Ou ingratidão por não merecer viver?

Nada do mundo quero mais ver,

Nunca quis: tanto aqui permanecer.

Imagino eu, daqui a cinco anos,

Com espírito velho, desgastado...

De quem tinha tantos planos

Mas todos eles deram errado.

Se hoje me sinto assim...

Tão sem vontade, querendo partir,

Imagino daqui a dez anos:

Lembrarei de todos os meus enganos.

Não sei de onde tiro essa força,

Para não abandonar tudo e sumir...

Para tudo meu espírito encontra

Um motivo para em frente seguir.

Nessa solidão sem fim, sou a única que vejo as coisas,

E acho tudo tão injusto, mas ninguém acha.

Não costumo orar com lamentações, é minha escolha...

Me sinto tão só nessa jornada errada...

Contando entre erros e acertos,

Parece-me que tive mais os primeiros.

Escolhendo entre coragem e medo,

O último me foi muito traiçoeiro.

Quem disse que as pessoas

Têm coragem de serem felizes?

Eu sou ave que não voa,

História que vive de reprises.

Cansada de um alguém esperar...

Para que esperar se posso ir embora?

Desse mundo que não para de girar,

O que posso encontrar vida afora?

Não aguento mais nada disso!

Será que está certo eu continuar aqui?

Não nasci para viver isso...

Mas se for, então não sei para que nasci.

Alguém me leve para longe,

Para que eu descanse para sempre.

Me ajude a atravessar a ponte...

Não devagar, mas que seja de repente.

Na travessia estarei sozinha,

Mas não consigo, pois não é certo.

Mas hoje mesmo ainda estou sozinha.

E não faz diferença o que acho certo.

Melhor seria estar lá

Do que aqui... desse jeito.

Sinto que não consigo alcançar...

O que procuro, dentro do meu peito.

Qual o sentido de continuar vivendo?

Não estou aproveitando minha vida.

Os meus sorrisos são máscaras ao vento...

Não amava, não chorava, não sabia.

Não confio mais em mim, na vida, em alguém.

Queria apenas que Deus me levasse...

Mas tenho família e alguns sonhos também...

Não queria que para eles nada faltasse.

Foram vinte e dois longos anos, e viver, tanto faz.

Aquele que me deu a vida poderia reconsiderar.

Já vivi o bastante, faz tempo não aguento mais...

Para outro espírito, poderia a minha vida entregar.

Lembro-me do jardim de infância até a graduação...

Naquelas épocas, já não aguentava mais.

Penso se alguma vez na vida, fui feliz de coração...

Mas só sei que dia após dia, eu não aguentava mais.

Viver sempre foi tão difícil para mim...

Eu não quero estar aqui, nunca quis.

Me esforcei para encontrar sonhos para mim...

Tentei ser alguém, mas não fui feliz.

A vida não tem graça, não tem mais amor.

Na vida não há remédio que cure tanta dor.

Apesar das responsabilidades, queria terminar...

Viver/não viver, é a mesma coisa, só muda o respirar.

Dia após dia procuro motivos para continuar...

Mas é tudo tão sem sentido, esse mundo, essas lutas...

Se eu não viver, não tem problema não sonhar

Não sei quando minha visão voltou a se tornar tão escura.

No colegial, parei de ver o mundo em cinza, preto e branco.

Comecei a enxergar as cores e o brilho nos olhos das pessoas.

Mas eu não sei porque já não choro tanto,

Meu sentimento não mudou, às vezes rio, às vezes choro à toa.

Choro sozinha sim, porque algo me obriga a viver.

E não há prisão maior do que essa, mas ninguém poderia entender.

Sem saída e sozinha, o que poderia eu fazer?

Nem mesmo morrer sei que posso merecer.

Morrem heróis, imprudentes, e idosos que cumpriram sua missão.

Mas eu não sou nada, não sou ninguém que mereça atenção.

Mas minha vida não é só de choro, arrependimento e lamentação.

É de sonhos, poesia, breves romances, e alguma canção.

Amanhã será mais um dia, que eu poderia não estar aqui.

Eu só estou cansada de tudo isso, não é como se eu quisesse me matar.

Mas há anos que não aguento mais esse mundo, e as coisas daqui.

E a única forma de me livrar disso é aqui não mais estar.

Aos suicidas estão reservados os piores destinos.

Mas será que eu não suportaria melhor do que as coisas da minha vida?

É uma questão de escolha, são válidos todos os caminhos.

O que serei quando chegar a hora da minha partida?

Amanhã é mais um dia, e eu não quero mais nenhum dia.

Peço que alguém me salve, mas só os anjos poderiam.

Meu Deus me quer viva, Ele me deu alguns dias (eu acho)...

Mas me fazer feliz, nem os anjos poderiam.

Meus fardos são meus, e só eu posso carregá-los.

Não há manual de como deles me desfazer.

Os meus dias, vou todos entregá-los...

A Deus, a quem quiser, entrego com muito prazer.

Minha vida, também, o que dela farei?

Estou tão sozinha e cansada...

Minha vida, viver, como ainda poderei?

Estou meio viva, mas minha alma ainda é penada.