Imparcialidade sutil
Não tenho mais aquele sorriso cor de meio-dia
nem o olhar luminoso de alguma lua cheia.
No desgaste das horas, nos resgates da paixão,
sobraram-me as letras tardias do inverno
e suas intenções mórbidas de tristeza
diante do vazio de minha estação.
Nenhum aceno, ao longe, dando-me as boas vindas,
nenhuma certeza ao redor, empoeirado abandono.
Nas vias de fatos espúrios, convivo com meus apuros,
lembranças como migalhas, largado feito cão sem dono.
Não tenho mais aquela brisa suave da esperança
nem o remanso onde repousam os sonhos satisfeitos.
No desacerto da história, no aperto dessa solidão,
preenchem-me as certezas profícuas e concretas,
no fundo das verdades mais duras e secretas
os resquícios sombrios de um amor em vão.