Deserto

Sou como uma rua
Escura e abandonada
Sem atalho ou desvio,
Totalmente desabitada,
Ocupada apenas
Pelo medo e o nada.
Após o tumulto
E a multidão de sentimentos
Que elevaram-me a alma,
Só me restaram  
O desencanto e o silêncio.
É como se, dentro de mim, 
Tivesse sido construído
Um enorme muro.
Uma muralha recoberta
Por um vão obscuro,
Uma cortina de fumaça,
Entre eu e a poesia,
Metricamente localizada.
Desde que me descobri assim,
Desabitada de versos e palavras,
Encontro-me vazia, esgotada.
Acolhida pelo desamor,
Findaram-me os sonhos,
As inspirações,
Deram-me adeus os versos,
Findaram-me as lavras...
Talvez, um dia,
Ao longo da estrada,
Eu consiga avaliar o tudo
Que se passou dentro de mim
E até volte a ser quem era.
Mas, por hoje,
Só há lugar para este nada
Que teima em ficar por aqui.
Por ora, meu diagnóstico
É apenas Deserto.

01.07.17
Aliesh Santos
Enviado por Aliesh Santos em 01/07/2017
Reeditado em 01/07/2017
Código do texto: T6042853
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