Recuse os sentimentos
As condolências
A autopiedade.

Recuse os cumprimentos
cerimoniosos
Recure a palavra escorregadia.
A insana expressão.
O gesto extracorpóreo.

Inunde o lugar de sua alma
De seus pensamentos.
De sua presença.

A aura silenciosa
E cortante a dividir 
mundo em aflições e dúvidas.

Recuse o egoismo.
Recuse a imersão insólita 
na vaidade e regozijo.

Perambule atrás de semânticas.
Prescrute símbolos,
sinais e reticências.

Pule no abismo insondável
da imaginação.
Conheça o fundo dos poços,
o fundo dos desertos,
o fundo das geleiras.
No mais árido e desabitado lugar.

Procure a vida.
Em grotas.
Em gretas.
Em vestígios..
Em moléculas.
Em odores, gestos ou prosa.

Procure o alento.
Procure a explicação intrínseca
do vento.
Das primaveras envelhecidas.
Dos verões inesquecíveis.
Dos invernos esculpidos em lã.
Das estações que pairam na eternidade.

Desarrume o cabelo.
Desalinhe-se.
Proteja-se com a liberdade
e assuma de vez a sua humanidade.
Embutida.
Empobrecida.
Enobrecida.
Enegrecida.
Por debaixo das unhas.
Debaixo de camas, 
de escamas,
de plantas
e miragens.

Imagine-se mais humano 
do que realmente é...
E sinta-se finalmente menor
que toda sua recusa.



 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/06/2017
Código do texto: T6036426
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