Perdão
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Perdão
Encobrindo a timidez
existem traumas.
Sufocando a palavra,
decepções, frustrações;
medos recorrentes.
O homem que agride
não é o poeta que sofreu.
Na verdade,
a poesia apenas tilinta,
reverbera e se propaga,
protegendo o calejado coração.
Persistem as raízes adolescentes.
Não por maldade,
o mal também perfura e cega.
Não por crueldade,
o bem também se protege,
evitando reincidências.
Lamentando a agressão,
máscaras se desintegram.
Interligando o ataque,
despedaça-se o egoísmo.
O dito tem a força do vento.
O ato, submissão à lei.
O maldito está na boca.
A bondade, no coração.
O veredito vem, à força, do martelo.
A sentença, incrusta-se na mão.
Propalar é verbo!
Propagar é vida.
Discordar é pejo!
Amansar, sofreguidão.
Esbravejar é tolice!
Praguejar é pieguice.
Silenciar é tolerância.
Amar, compreensão.
Ah, mas o sufoco
está no passado.
Num coração amarrotado,
cheio de desilusão.
Ah, mas o desabafo
não vem em formato humano.
O grito não é meu,
é do poeta, sempre!
Porque o homem, tímido,
de tanto apanhar,
não reaprendeu, ainda,
a abrigar-se noutras mãos.
Nijair Araújo Pinto
Iguatu, 23 de junho de 2017.
19h38min
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