Deixe-me

Deixe-me

Deixe meu corpo desfigurado;

Há espreita do lugar errado,

Deixe minha alma trêmula;

Naquela casa incrédula,

Deixe minha existência bruxulear;

Até a cinza em mim, dissipar,

Deixe-me em paz;

Até quando não haver mais,

Deixe-me desvanecer;

Até a minha exígua felicidade morrer,

Deixe meu coração irrisório cair;

Até quando a tristeza sorrir,

Deixe essas palavras mal ditas;

Que enforcam minha garganta maldita,

Deixe meu amor descrente;

Até quando for demente,

Deixe-me aqui florescer no nada;

Mesmo quando minha é existência enraizada,

Deixe-me virar uma lacuna, um vão;

Enraizando até o insensato coração,

Deixe-me viver dessa decadência;

Onde festejo minha ausência,

Deixa a saudade me tornar inverso;

Perder-me em minha fé, em minha alma, e em faltas até eu estiver imerso,

Deixe-me viver nesses pedaços, nesse resto;

Mesmo quando nunca estiver completo,

Deixe-me morrer daquilo que me vicia;

Dessa distante e efêmera poesia,

Deixe-me ser errôneo e ao contrário;

Deixe-me ser um exímio otário.

G S
Enviado por G S em 09/05/2017
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