Deixe-me
Deixe-me
Deixe meu corpo desfigurado;
Há espreita do lugar errado,
Deixe minha alma trêmula;
Naquela casa incrédula,
Deixe minha existência bruxulear;
Até a cinza em mim, dissipar,
Deixe-me em paz;
Até quando não haver mais,
Deixe-me desvanecer;
Até a minha exígua felicidade morrer,
Deixe meu coração irrisório cair;
Até quando a tristeza sorrir,
Deixe essas palavras mal ditas;
Que enforcam minha garganta maldita,
Deixe meu amor descrente;
Até quando for demente,
Deixe-me aqui florescer no nada;
Mesmo quando minha é existência enraizada,
Deixe-me virar uma lacuna, um vão;
Enraizando até o insensato coração,
Deixe-me viver dessa decadência;
Onde festejo minha ausência,
Deixa a saudade me tornar inverso;
Perder-me em minha fé, em minha alma, e em faltas até eu estiver imerso,
Deixe-me viver nesses pedaços, nesse resto;
Mesmo quando nunca estiver completo,
Deixe-me morrer daquilo que me vicia;
Dessa distante e efêmera poesia,
Deixe-me ser errôneo e ao contrário;
Deixe-me ser um exímio otário.