Não posso resistir ao abismo
Ao olhar inebriante
lânguido e longilíneo

Não posso resistir ao enigma
Ao sufocar da dúvida
Ao sopetão 
a tomar-me de assalto
a palpitação cardíaca e o oxigênio.

Pois estou aqui
rente a lâmina míope do mundo
Sou apenas um ponto sujo
imerso no planeta água

Estou sedenta
E conheço o fluxo da mará
E a dor de se ver espelhar 
em águas profundas.

Não posso resistir ao vento
que rouba essências
em segundos.
Que carrega segredos
e mistérios nos uivos
Que trafega pela alma adentro

O vento que é fúria 
e, ao mesmo tempo, é carícia.
A chuva que é chibata
e, ao mesmo tempo, é promessa
de vida,

O sólo fértil espera a semente.
A imaginação humana espera 
a criatividade,
num flash
num átimo,
numa faísca.

Onde todo incêndio
tem neros,
dépotas
e heróis.

Onde toda tragédia
conhece Desdêmonas,
Otelos e
Iagos...

A traição pelo lampejo.
Pelo inesperado.
Pela palavra não dita.
E o silêncio poético.

Rendo-me a poesia
sem rimas...
Rendo-me ao lirismo 
incontido...

Rendo-me a ficção
que conta verdades
vistas sob prismas,
telescópios,
lentes que aumentam olhos
e diminuem a  ótica.

Rendenção completa.
Entrego-me aos ventos,
as chuvas e ao fogo.
Para queimar as lembranças
que não consigo esquecer.
E apagar as cinzas do caminho.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/04/2017
Código do texto: T5975694
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