QUARTO DE DESPEJO
Eu sou a miséria do mundo
e canto
a agonia de me sentir viva.
As pessoas vigiam minhas mãos.
Sou apenas isso:
mãos que tecem,
mãos que limpam,
mãos que carregam
o peso dos outros.
Ninguém as beija.
O salário que recebo
não paga o sol
que me queima a face.
Trabalho e sei
que, quando parar a labuta,
quedarei morta
de uma vida
que jamais vivi.