este poema só duas pessoas irão entender

Karen
dois anos
estacionado
Karen
dois anos
paralisado
lobotomizado
petrificado
num pensamento
num cenário
digno
de Oscar
num roteiro perfeito
sem chuva
e
sem beijos
em dias escuros
e noites também.

Karen
foram dois anos
Karen
foram dois anos
repetindo
palavras
exercitando uma
autoenganação
Karen
foram dois anos
empurrando os sonhos
para um céu nublado.

tiraram as curvas das
estradas. a cento e
setenta eu dirigia sem
medo e sem delírio e
sem habilitação.
tiraram os caminhos
mais calmos, e eu tive que
respirar fundo para não
atropelar um idoso puxando
seu carrinho de mercado.

lentamente te vendo
seguir em frente
do alto de um
morro
nos clichês que me
faziam esquecer
estar vivo.

perdi olhares
perdi amores
perdi suspiros
perdi
perdi
perdi a esperança
que os filmes românticos
me fizeram criar sobre
você.

mas Karen
eu ainda tenho nossa aliança
mas Karen
ela agora
fede ao cigarro que meus
dedos seguram.

dois anos de dias sozinho
dois anos de noites também
e você me aparece
querendo me puxar
de volta
para a novela que vivemos.

o sol não é somente seu.
o sol não é você em seus
sonhos
e
o sol não é você quando
de frente para o espelho
mente para si mesma.

as músicas acabaram e
as esperas acabaram mas
os poemas continuam
porque assim eu me
liberto.
e você irá omitir minhas
palavras
no final
como você sempre fez
para aqueles
que nunca nos entenderam
para aqueles
que nunca quiseram
verdadeiramente
ver o seu bem
como eu.

e você irá negar minhas
palavras
no final
desta leitura.

e deste jeito eu fico com
a
como você me disse
que os escritores
deveriam.

talvez o ódio de Deus
não seja a pior coisa.

talvez acordar sem te
ter possa me ser a maior
dádiva de todas.
Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 08/04/2017
Reeditado em 08/04/2017
Código do texto: T5964901
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