bebida poética
bebo poesia gelada
na manhã semi-quente
vou sorvendo suas intensas
gotas líricas
a mapear minha goela
e a percorrer o
reverso das palavras
o avesso dos gritos
a antítese dos suspiros
e a cada pausa
a vírgula angustiante
do cansaço,
do dejà-vu
bebo poesia quente
escaldante
feito lava de vulcão
a derreter significados
a diluir semânticas
a reduzir sentimentos
em pedras
em chão esponjoso e
irreconhecível
a poesia fervida
acende-me a ebulição da alma
levanta as cinzas
das catacumbas
umprime fóssil
feito tatuagem
no rosto do dia.