Solar da solidão
Todos os meus sentimentos estão acomodados nos versos que faço.
Não meço esforços e dou a eles um lar
de acordo com as suas vitórias e os seus fracassos.
Ao meu amor, foi dado uma cabana num lugar distante,
e de difícil acesso.
O prazer, coitado, foi despachado na última diligência
por falta de espaço.
Felicidade mora em um mausoléu, não a vejo há tanto,
que minha saudade, essa ingrata,
exigiu-me bem, de frente à praça, um arranha-céu,
e toda imponente, intimida os que passam de bengala e chapéu.
O desejo, vadio faminto, dorme ao relento,
e para não morrer de fome, come pão bolorento,
veste-se de terno e gravata, excomunga e roga praga
aos elementos do tempo.
E eu, em mais uma empreitada, copio do pedreiro sua nova morada.
Enquanto ele amassa o barro, eu dou alma às palavras.
De voo em voo a casa vai surgindo.
O mais novo lar do João.
De verso em verso eu construo um solar pra minha solidão.