Meridianos
Ele e os Outros,
Tese e antítese,
Nascidos em paralelo,
Qual meridianos:
Nunca se encontram.
Na mesa de jantar,
Imprensada num canto escuro da sala,
Serviçais amontoam, às pressas,
Um banquete coagulado de presas,
[carnes e vísceras.
Vorazes,
Uma matilha de predadores
[se amontoa e ataca, aos restos,
Os restos de banquete.
Quando nada mais resta,
O silêncio, por vezes quebrado
[pelos produtos da digestão,
Em putrefação,
Revela os torpores do corpo
[e o vazio das almas.
E Ele, atônito,
Diante do vagar das horas,
Que insistem em não passar,
Pecebe, sozinho,
Que o anfitrião,
Num último e novo golpe,
Estende sobre a mesa,
Como derradeira oferenda,
Uma enorme língua em chamas,
Estúpida, sovina e cruel,
Rasteira qual serpente,
Contra sua própria geração.