CICATRIZ
Horas me vão reduzindo a pó.
Já não sei mais o que fazer de mim.
Sinto que estou desaparecendo,
esquecido neste paraíso de cinzas,
onde tornei me mais um alienado,
vivendo por viver, sem nenhum prazer.
Chego a temer até meu pensamento,
pelo grande vazio que nele habita.
Enquanto mih’alma chora e grita,
por me ver nesse grande tormento.
Às vezes finjo, tentando me ignorar,
e digo que tudo isso há de finar.
O desespero rouba-me a calma.
Sinto me aflito, com o coração na mão,
batendo descompassado,
nesse silêncio impiedoso e cruel.
Terei que interpretar mais esse papel,
de um ator destruído e transfigurado?
Dela já não consigo recordar.
E por mais que me esforce,
nem mesmo sua sombra,
serei capas de me lembrar.
Não lhe guardo nenhum rancor.
Nem tampouco alguma mágoa.
Somente essa cicatriz em meu rosto,
gravada numa profunda dor,
pela amargura gélida, de uma lágrima,
que num momento de desgosto,
sem perceber deixei cair.
Nova Serrana (MG), 17 de março de 2011.