HIPOTÁLAMO
TADEU BAHIA - Autor
A estrada é o torrão onde a gente pisa
Muito embora a estrada não seja
O torrão onde a gente pisa.
A estrada é o que conduz a algum lugar
E todos os lugares são acessíveis
Através de uma estrada,
Sejam elas terrestres, marítimas, aéreas,
Ou o simples pulsar das asas da inteligência.
A inteligência desloca-se, embora não seja estrada,
Nem tudo que tem pés anda e vai aonde quer
Todavia, a inteligência caminha
Nos subterrâneos da Humanidade
Ou vai dispersa e solta nos cosmos
A caminho de céus desconhecidos
E inexplorados dos deuses.
A estrada é infinita quando a imaginação é fértil,
A estrada também é infinita quando a imaginação não é fértil
Pois a Ignorância não tem fronteiras!
As suposições acerca de uma estrada são relativas
Senão não poderiam ser suposições acerca de uma estrada.
Com as estradas da inteligência nós vasculhamos o universo
Embora o universo possa estar contido no ponto
Embora o universo possa estar contido num ponto.
O universo é do tamanho da nossa capacidade
Embora a capacidade não possa ser medida na trena
Porém, atribuímos certa medida a ela,
Em razão de ser do nosso próprio conhecimento.
Pois é através do nosso conhecimento
Que sabemos e damos nomes às coisas
Sem o qual, todas as coisas seriam o Nada.
O conhecimento caminha junto com a sensibilidade
Sem a qual, não poderia haver definições,
E todos os adjetivos seriam destituídos de significação
Porque todas as definições e adjetivos que os Espíritos
Denominam as coisas, são atributos específicos
Do conhecimento e da sensibilidade.
Às vezes nós não podemos realizar uma viagem
Uma viagem exige uma circunstância, um acontecimento,
Todavia, se não pudermos realizá-la,
Corremos céleres para os fundos do quarto
E despejamos as roupas desarrumadas por cima da cama
E jogamos a mala aberta por cima do guarda roupas
Por não haver necessidades de viagens,
De malas, ou consequentemente de roupas...
Tudo é uma questão relativa e banal
Embora certas ocasiões não sejam relativas
Nem tampouco banais,
A cor é quem define a qualidade
Estar é permanecer. Andar é ir.
Como vão estes pontos de reticências...
O vento sopra lá fora
Mas, por outra razão que desconheço
O vento poderia não estar soprando lá fora.
As pessoas andam nos viadutos! As pessoas passam...
As pessoas mijam dos viadutos! As pessoas passam...
As pessoas escarram nos viadutos! Aas pessoas passam...
As pessoas morrem nos viadutos! As pessoas passam...
O vento sopra as saias das mulheres nos viadutos
TODA A HUMANIDADE OLHA!
Ah! Fim de tarde de sexta feira,
Vontade querida de embriagar-me com cervejas
Nos balcões viciados dos prostíbulos
Ou nos bares nauseabundos das esquinas
Onde há uma sombra de edifício
Onde há uma sobra que é difícil.
Os versos do poeta e filósofo baiano Paulo Garcez de Sena
Enchem os meus olhos verdes de lágrimas:
“As minhas mãos em concha no peito
Apodrecerão na terra...
Estas mãos que esculpiram colossos
Maior que o de Rodes!
Estas minhas mãos, apodrecerão
Sob a terra...”
Há metafísica bastante por baixo da terra
Assim como há metafísica bastante por cima da terra
Por baixo os demônios, por cima os deuses,
Ou não será o contrário?
Tudo é relativo. Já disse!
O universo é uma questão de ordem
Não importa o em cima ou o embaixo
Se a própria terra é redonda e o universo é vasto
E existem homens em todos os pontos do céu.
Paulo Garcez de Sena encarna o mundo da desordem
Da desordem harmônica e arrumada das civilizações
Isto porque as civilizações são uma desordem
Que o poeta Paulo Garcez de Sena arruma em ordem alfabética
E depois as coloca em fila indiana
E como nas pedras do dominó ele bate na primeira
E esta primeira pedra caída desaba sobre as outras
E estas outras sobre as outras... e outras... e mais outras,
Até que todo o complexo das civilizações desmorone
E o Paulo Garcez de Sena dê aquela risada satânica
Lá das profundezas da Terra!
Falam por ai que a Terra acabará num conflito atômico
E fazem bombas para serem postas nos quintais
Onde brincam as crianças, onde se estendem as roupas nos varais,
Onde passeiam as mulheres grávidas e os velhos em cadeiras de roda,
Onde trepam o cachorro e as cadelas... o gato e as gatas...
O homem com mulheres e outros com homens mesmo...
Apesar disto eu não acredito na bomba atômica
Como nosso suposto fim... Absolutamente não!
Existem bombas muito mais poderosas e fatais
Dentro de nós mesmos,
Elas são muito mais letais do que possamos imaginar:
São as armas dos nossos maus pensamentos!
Somos os criadores e os destruidores de nós mesmos
Dependendo tão somente da positividade ou da negatividade
Do que pensarmos!
O Paulo Garcez de Sena antecipa tudo isto
Depois desaparece sorridente e feliz lá nos céus
Sob uma chuva interminável de estrelas!
Daí vimos que a metafísica não serviu para coisa nenhuma
A não ser retrocedermos para o Nada!
Os deuses tiram folga e estendem as suas mantas
Pelos ancoradouros dos céus.
Os barcos balançam.. parados... mas balançam
O oceano pulsa... os barcos vivem!!
Os barcos são o termômetro do oceano
E as correntes marinhas os seus vasos sanguíneos
O coração é o mar aberto onde os Titãs copulam com as Sereias.
O coração é um mar aberto, onde os deuses copulam com as areias.
Há metafísica bastante na xícara
Embora a metafísica desconheça o que seja uma xícara
E uma xícara sequer imagine o que seja a metafísica!
Contudo, existe uma dialética entre elas que aborrece.
Uma xícara é uma xícara. Nada mais que isto.
Seja de porcelana branca com frisos azuis
Ou mesma de cobre/cobre polido das Índias Ocidentais.
Uma xícara é um recipiente assexuado
Que as pessoas todas levam à boca e a pia
Embora a nossa boca seja a nossa boca
E uma pia uma pia...
Mesmo que exista alguma semelhança entre elas
Pois é na boca da pia que as baratas trafegam às noites
Tais prostitutas de alto luxo nas suas limusines negras,
A caminho de uma lauta bacanal nas ruas de baixo.
As baratas curtem a noite e os cantos escuros
Apesar das noites serem noites
E os cantos escuros serem os cantos escuros.
Cada qual com as suas características peculiares
Seu odor próprio/suas naftalinas/suas friezas...
A xícara é muda e estática
A xícara é imunda e antipática
Igual a certas pessoas...
A xícara tem uma personalidade
Apesar de ser um objeto
Todavia todo o objeto tem as suas qualidades
E a xícara tem as suas: ... indefinidas!
Pois a xícara comporta diversos conteúdos
Dai ser uma xícara. Nada mais que isto.
É gostoso explanar sobre a Humanidade
Embora saibamos que a Humanidade não é um lixo
A Humanidade fede, igual às fezes... as mulheres não!
As mulheres não fedem porque não são humanas (!)
Mulher é um projeto interrompido dos deuses
Que foi abandonado no mundo por falta de matéria-prima.
A mulher é um projeto inacabado por isto ela é SAGRADA
E é por isto que ela não fede!
Se ela não sangrasse mensalmente
Possivelmente ela federia – como fedem os homens
Por lhes faltar uma regular menstruação!
Embora o Dr. Elcimar Coutinho já tenha pontificado
Que todos os homens são menstruáveis...
A mulher, por não ter inteligência e capacidade,
Não governa o mundo, não dirige foguetes, não pilota navios,
O único barco que ela conduz é o pinico
Pelos mares escuros da noite
Cheios de restos de orgasmo e esperma
Do coito recém-efetuado.
E elas trafegam todas as madrugadas frias
Com o pinico nas mãos/ tal uma extrema-unção
À boca da vagina escancarada!
Há comunhão bastante entre a vagina e um pinico
Ambos são cúmplices porque se completam
O pinico coleta os restos da mulher que se ajeita,
Suspira... depois dá aquela mijada!!
Que pensamos que é um ruído de torneira
Aberta fora de hora dentro da noite.
A mulher não pensa. Logo não existe,
Por isto ela não faz parte da Humanidade.
A mulher é um objeto a parte/apêndice da criação
Onde se escondem os homens todos na sublime hora do gozo
Quando as pernas e coxas loucas/lautas e aos gritos
Entrelaçam-se furando sexos/sangrando restos
Partindo camas, desabando lençóis e enxovalhando a noite
Em orvalhos.... espermas... e espumas...
A mulher é a antecipação das trevas. O homem não!
QUANDO A MULHER DÁ A LUZ!... O HOMEM É QUEM ENXERGA!
Tenho uma estante cheia de livros antigos
Alguns deles o meu tio Alexandre Robatto Filho deu para mim
Enquanto que outros, ele em conversa me sugeriu que os comprasse.
Na minha casa cada livro é uma fotografia de uma época
Emoldurada nas telas dispersas do tempo.
As fotografias antigas falam... Os livros não.
Os livros são seres específicos. As fotografias também são.
As fotografias leem... Os livros retratam...
As fotografias retratam... Os livros leem...
Cada qual com a sua expressividade
E a sua própria filosofia.
Os tipos dos livros aparecem nas fotografias
Mas as fotografias não aparecem nos tipos dos livros
A não ser quando os livros falam de fotografias,
Senão não seriam fotografias e sim: CARACTERES!
Os livros têm uma capa. As fotografias tem uma moldura.
Embora os livros possam ter capas emolduradas
E as fotografias molduras encapadas...
Tudo depende tão somente da sensibilidade
E da criatividade do Artista:... VIVA O NAÍLSON CHAVES!
Ambos são cúmplices: livros e molduras... Eis tudo!
O mundo foi criado da cumplicidade.
Quando Deus acabou de ler o livro divino
Criou a Paz e a Guerra e as tomou cada uma pelas mãos
E disse-lhes:
“_Desçam juntas e vão povoar a Terra!”
Então vieram a Paz e a Guerra habitar entre os homens
Em pleno Jardim do Éden,
Onde já as esperavam as sementes e as serpentes
Do Bem e do Mal.
Que lhes deu de provar do fruto proibido
E a Paz foi expulsa da Terra... A Guerra, não!
Por isto hoje os países têm fronteiras
Os quintais têm cercas, as casas têm portas e janelas,
As ruas têm sinais de trânsito e faixas para pedestres.
Quando tudo isto era para ser aberto a todos:
Fronteiras, cercas, portas, janelas, as ruas e avenidas das cidades!
Mas não... A Guerra impôs leis aos homens, estabeleceu limites,
Fez que fossem redigidos tratados, promulgadas pretensas constituições,
Por isto somos estes seres incompletos/castrados/limitados/bitolados/tolos.
O homem só dorme com uma mulher...
Há outros que dormem com mais de uma/duas/três mulheres.
Há homens que dormem com homens, vários deles, de todas as cores.
Os livros do meu tio Alexandre Robatto Filho
São quem contam todas estas histórias/estórias!
Tenho um cabide antigo no meu quarto
Onde penduro as minhas camisas e calças usadas
Ali no cabide elas ficam estáticas e pensativas
Como simples estátuas de pano.
Quando à noite a escuridão vem e as luzes se apagam
As minhas camisas e calças parecem assumir vida própria
E descem sozinhas do cabide e começam a andar pelo quarto,
Como a procurarem vestir corpos que não existem...
Então se esbarram nos móveis, chutam sem querer os meus sapatos,
Ou na maioria das vezes, ligam o abajur e pegam um livro antigo,
E ali ficam sentadas na beirada da minha cama, calmas e reflexivas,
Tomando café e lendo as páginas amarelas e nostálgicas do Baudelaire!
As minhas camisas e calças têm “dotes intelectuais”!
E eu nunca havia me apercebido disto.
Quando a madrugada finda e a escuridão vai embora,
As minhas camisas e calças se levantam, apagam o abajur,
Fecham o livro e o devolvem ao lugar certo na estante
E antes de retornar ao cabide elas escovam os dentes,
Penteiam os cabelos romanticamente desalinhados,
Vestem os seus pijamas, matam rápidas uma barata que passa,
Verificam as janelas e portas da casa, para depois
Irem dormir o seu sono tranquilo
Dependuradas no velho cabide, atrás da porta do meu quarto...
As minhas camisas e calças são o meu Estado de Espírito
Embora o meu estado de Espírito não vista roupas
Ou não seja ele completamente...
Um minuto!... Não discutamos personalidades, chamemos um Analista!
A ele sim caberá resolver a questão.
As calças são cinzas ou negras, As minhas calças são cinzas ou negras.
As minhas perspectivas seriam sombrias?
Não sei... Nada sei...
Há uma dialética interessante entre o negro e o cinza
Embora o negro seja o negro e o cinza, o cinza.
O negro é a soma de tudo. O cinza não.
O cinza é a aparência do nada.
O negro violenta... O cinza é “bicha”!
Há uma alegria constante em não pensar em nada!
O lençol da minha cama é azul
Porque o azul é uma cor bonita.
Sobre o azul os barcos navegam, as estrelas brilham,
Enquanto os aviões disputam o espaço com os insetos.
A poluição mata. O meu lençol azul da cama não.
O meu lençol de cama só anda estirado
Porque o ser estirado é uma função orgânica
De todos os lençóis azuis ou não de todas as camas.
Uma cama é um caixote com pernas
Onde, embaixo dela, escondemos os nossos sapatos.
A minha cama é larga e antiga, onde espalho os livros, papéis e canetas,
Como se ela fosse uma escrivaninha.
A minha cama anda de noite
Pelos lugares escuros onde o meu medo habita
Ela anda silenciosa e assustada/quando ao ranger da porta
O meu coração de molas bate forte e palpita.
A minha cama tem emoções fortes
Porque sou uma pessoa que não sou hipertensa
E nem tampouco nunca tive úlcera gástrica.
Anos adiante me diagnosticaram com câncer no pâncreas,
Os exames que fiz no hospital retratavam isto...
Mas eu não estava com câncer no pâncreas, sabia disto!
O verdadeiro câncer que tive foi muitos anos adiante ainda
Quando a Dra. Aline Pontes me falou, após biópsias contundentes,
Que eu estava com um pré-câncer na cabeça...
Semanas depois ela me deitou na maca, bem perto do colo dela,
E enquanto ela me falava palavra s carinhosas nos meus ouvidos
Sorrindo-me, com o seu sorriso romântico e doce,
Em rápidos instantes as suas mãos leves, bonitas e seguras,
Extraíram o pequenino tumor que quase nos meus pensamentos
Infiltrava-se...
Passei por muitos maus momentos na minha vida:
Quando criança fui paralítico, quando adolescente um sonhador!
Quando entrei na juventude fui um homem perdido
E agora na minha maturidade deixei de ser um perdedor!
Embora a minha cama - vez por outra - é quem tome tranquilizantes.
A minha cama tem estados interessantes
De dia ela é homem... Às noites ela é mulher.
Os paulistas e cariocas falam que os baianos são assim
Completamente assexuados:
Pelas manhãs são azuis, são homens...
Às tardes são cor de rosa, ou veados...
Durante as noites e madrugadas, porém,
Assumem as cores do arco-íris!
E na orla das praias da Pituba e Amaralina
Esperam os clientes nas mais decadentes e escuras esquinas.
Quando a noite vem e o sono chega,
Entro no quarto, tiro as minhas roupas,
E me atiro nu sobre os lençóis azuis
Os lençóis azuis e femininos da minha cama
Os quais me envolvem e me afagam,
Enquanto a brisa entra pelas janelas.
Deitado sobre a cama eu suspiro e choro
Enquanto ela abre as pernas e me acolhe no seu colo
E eu grito de prazer e de gozo jogando os travesseiros no chão
Enquanto a cama treme... sacode... e balança,
Executando a voluptuosa dança das minhas orgias sexuais!
Nas paredes as fotografias nos olham, caladas
Nas paredes as fotografias nos olham, culpadas...
O sono adormece... O despertar, não!
O lençol azul me esconde do frio das madrugadas
Por isto ele é azul, se não o fosse não me esconderia
E eu sentiria frio durante todas as madrugadas.
A minha cama quando sai às noites
Leva todos os seus documentos,
Porque todas as noites os guardas noturnos fazem “blitz”
E não deixam a minha cama sossegada.
Além dos documentos, eles pedem que a minha cama
Arregasse as mangas da camisa e mostre os braços
Para verificar se ela tem marcas de “picos”,
Ai eles pegam o meu lençol azul e lhe levantam a saia
A procura de cigarros de maconha amarrados nas coxas
Com tiras finíssimas e transparentes de esparadrapo,
Ou escondidos bem mornas e aconchegantes dentro da buceta,
Mas a minha cama não é viciada em tóxicos
Mas o guarda noturno não sabe disso!
O guarda noturno não conhece as funções de uma cama
Por isto ele é um guarda noturno... e mais nada!
Gosto de ler livros antigos durante a noite
Porque as noites foram feitas para lermos livros antigos,
Se não existissem livros antigos, decerto também não existiriam as noites,
A fim de que passássemos a ler livros antigos.
Gosto particularmente dos livros históricos
Daqueles volumes ensebados que contém histórias das cidades,
Das cidades antigas do Recôncavo da Bahia
Nominando as suas famílias tradicionais:
Araújo Pinho, Paim, Bandeira, Telles Velloso, Oliveira Pinto,
Ferreira e Castro, Vianna Bandeira, Oliveira Bahia, Garcez de Sena etc.
Adoro também ler os livros que falam dos lugarejos do Nordeste
Nordeste do Brasil,
Onde aconteceram as epopeias dos Canudos,
Antônio Conselheiro e os seus loucos e santos fanáticos
E das histórias e estórias do cangaceiro Lampião e do seu bando
Capitaneados pela beleza agreste da Maria Bonita
E pela determinação inconteste da Dadá, mulher do Corisco,
Que o historiador e poeta baiano Ivan Dórea Soares
Ensinou-nos em Seminários célebres
No antigo Centro de Estudos e Pesquisas da História,
Hoje, Centro de Estudos e Ciências Humanas.
E que mais tarde o querido amigo Manoel Neto eternizou
Em estudos/pesquisas/ livros e publicações monumentais.
Saga esta que naquela época fora também consagrada
Pela escrita nervosa de uns dos meus ancestrais
Quando ele escreveu aquela “Bíblia Sertaneja”
Intitulada: “OS SERTÕES”!
Existe muita gente que não sabe que sou também
Um dos descendentes do neurótico escritor Euclides da Cunha.
A mim, tal fato pouco importa... A eles, nem sei!
Pouco me importa!
Varo as noites e as madrugadas
Deitado sobre o meu lençol azul – porque o azul é uma cor bonita
Como já falei há versos passados...
E entro nos meandros das histórias e estórias que os livros contam
Envolvendo-me em laços antigos de Família
Com as suas datas remotas e remotas
Que sinto nos livros o cheiro da poeira dos séculos!
Leio atento os inventários deixados, os espólios, os testamentos,
Rezo pelas almas dos que já se foram e dos que ainda irão,
Participo da inauguração da primeira estrada-de-ferro
Nas terras remotas da Bahia,
Assisto à inauguração de um alambique de cana,
Ando no meio do mato em companhia de escravos suados
Com os seus carros-de-bois atolados no chão de massapê.
Sonho feliz e encantado, quando, exausto,
Adentro nas varandas senhoriais da Casa-Grande
Que as possantes palmeiras imperiais envolvem nas suas sombras;
Gosto de assistir as meninas-moças a passearem à tardinha
Acompanhadas por suas damas-de-companhia
E caminham frescas e virgens com o grelo latejando
Em desejos... em pecados... e mil outras putarias!
Gosto de ouvir, nas horas vespertinas, as suas queixas,
Os seus primeiros ciúmes
E embeveço-me ao crepúsculo,
Ao ouvir o canto triste dos pássaros
E aquele silêncio morno e pesado
Que a tudo envolve/lento
Quando as primeiras horas noturnas aparecem
Envolvendo-nos no véu do arrependimento.
E ali, em pleno Século XVIII,
Quando do desconhecimento pleno da eletricidade
E dos recentes confortos domésticos,
Eu também me dirigia em direção à Casa-Grande
Procurando uma vela nas gavetas esquecidas dos móveis antigos,
E quando a acendia... Que festa!!
O quarto antigo da Casa-Grande iluminava-se
E as pareces amarelecidas iluminavam-me também
E toda a Casa-Grande me protegia com suas telhas pesadas
E sustentavam o meu corpo com o seu assoalho frio,
A sua imensidão... Olhar as paredes dá vertigens!
O telhado fica (va) lá no alto, bem lá no alto,
Sustentado por grossos e vigorosos madeirames,
As quais à primeira vista parecem escorar o próprio céu!
São lindas as noites do Século XVIII,
Lá fora tudo é escuro, todavia os escravos fazem festas,
E cantam ásperos e belos na sua língua nagô,
Enquanto os atabaques ressoam ligeiros e tristes
Lançando os seus lamentos surdos sob os céus...
A Sinhazinha é distraída com estórias fantásticas da sua mucama,
Que ali aos pés da sua cama, debaixo da luz amarela de uma vela antiga,
Conta-lhe casos da mula-sem-cabeça, do caipora, do boitatá,
Das almas penadas, das casas mal-assombradas,
Dos diabretes negros de uma perna só
E outras fábulas fantásticas
Antecipando-se às estórias futuras do Monteiro Lobato;
Tudo isto eu vivo nas páginas dos livros antigos
Ao folhear as suas páginas amarelecidas
Quando vejo perfis de avós, semelhanças entre primos,
Das crianças de olhos verdes e claros iguais aos meus,
As histórias verídicas do meu bisavô materno, que era Padre,
O Padre Manoel Bahia
Que oficiava na Igreja de Nossa Senhora da Purificação,
Na cidade de Santo Amaro da Purificação – Recôncavo da Bahia!
Onde na Sacristia da citada Igreja fez seus filhos, cuidou deles,
E hoje em dia está na mesma Sacristia ora enterrado
Junto com alguns(mas) parentes seus!
Mexo em espadas usadas dos tempos das guerras,
Olho comovido as Comendas da Cruz de Malta,
Medalhas da ordem do Cruzeiro do Sul e condecorações diversas,
Quando tropeço em arcas e em bancos antigos
Outras vezes me deparo com baús de tampas abertas
Mostrando coleções de joias raras
Entre colheres finas de prata vindas do Reino
E porcelanas chinesas contrabandeadas no além-mar;
Encontro também oratórios pesados e velhos
Com os seus santos em posições de êxtases
Com os olhos virados para os céus
A fisionomia transfigurada em gozo!
E o interessante: o interior de tais imagens É ÔCO!
Quase todas as imagens fabricadas naquela época
Entre Portugal e o Brasil eram ÔCAS!
A fim de contrabandear joias e ouro para fora do Brasil!
Então, o que hoje assistimos nas televisões e nos computadores modernos,
Nada mais são do que o retrato fiel e apurado da nossa herança genética!
E assim navegavam as imagens dos nossos santos antigos
Em inocentes e frequentes procissões, entre a extinta Colônia do Brasil
Até as terras do Reino Unido de Portugal e Algarves!
Ah!... Noites frias!
Momentos duvidosos do Ser.
Ausência interrogativa do EU – dentro e fora de mim.
A inexistência da minha própria existência.
Lágrimas choradas por mim... outras não.
Livros antigos de capas duras, páginas bordejadas a ouro,
Relicários plenos de séculos passados
Quando se escreviam versos bonitos
Que em si valiam como autênticos tesouros!
Ah!... Os seus poetas morreram
E não se lhes rezaram missas de sétimos dias!
A antiguidade permanece de pé!
A antiguidade permanece em pé em nós – a cada passo –
A antiguidade é inerente a nós – com os seus fracassos –
As suas dores, as suas angústias, as suas dúvidas,
A antiguidade vibra em nós com os seus valores,
As suas camas antigas de ferro, os seus baús quebradiços,
As suas velhas bibliotecas e os seus retratos sisudos a óleo.
Tudo isto resvala no sangue, nas tachas pesadas de cobre,
Na bacia de estanho sobre a grande mesa de peroba.
Bancos antigos de carvalho a rodeiam e a abraçam
Como numa brincadeira de ciranda!
Em tudo que é de si – em tudo que é em si.
A antiguidade grita possessa a cada passo,
E nos cobra inconteste as suas esmolas!
Vejo as suas mãos trêmulas, ossudas, descarnadas,
Viciadas e pedintes nas sarjetas dos séculos!
Ah!... Se pudéssemos guardar a antiguidade
Dentro de uma gaveta,
E perversamente escondermos as suas chaves!
Trancafiava-mo-la no fundo dos porões de nós mesmos,
Onde escondemos as nossas Razões e a nossa Consciência!
Se pudéssemos assassiná-la durante a noite
E recolhermos – rápidos – os seus despojos ao lixo,
Puxa! ... Porque tanta gente tem medo do seu passado?
Será que as nossas tias-velhas foram por nós violadas
E a nossa mãe foi no passado uma mulher desonesta?
Porque ocultar o passado dos nossos filhos?
Porque não conta-lo, gloriosos, aos nossos netos?
Porque escondemos tanto o nosso passado?
Porque ocultar aos nossos legítimos e futuros herdeiros
As origens da nossa própria História?
Somente o meu tio Alexandre Robatto Filho
É quem nunca pensou nessas besteiras!
O meu tio Alexandre Robatto Filho se parecia muito comigo:
Ele também gostava dos livros, amava os versos pícaros,
Escrevia romances, pintava quadros, desenhava,
Tinha bons amigos e também amigas honestas,
Amava os esportes de tiro e tinha a sua espingarda
Assim como eu que amo os esportes de tiro
E também tenho a minha espingarda!
O meu tio Robatto era frequentador das noites baianas
E enquanto os fregueses dirigiam-se às mesas do pôquer,
O meu tio Robatto andejava nas camas baianas
Até uma noite, quando brilhou no alto dos céus,
Aquela que um dia seria a minha querida tia Stella Robatto!
E o meu tio Robatto mesmo sem ser o “Anjo do Senhor”
E sem ter que anunciar absolutamente nada à Virgem Maria,
Nem sequer adjetivá-la de “cheia de graças, o Senhor é convosco”
Fez gerar os queridos primos Sílvio, Yêda e Sônia Robatto,
As estrelas mais sublimes do meu céu de primo gosto!
O meu tio Alexandre Robatto Filho tinha um Rádio Amador
Com quem ele falava com os parentes da Europa na época da guerra
Ou escutava informações importantes para as nossas tropas,
Assim como hoje eu tenho um notebook bacana
Com quem posso falar com as pessoas de todas as partes da terra,
Onde leio e tomo conhecimento de fatos importantes
Ou mesmo degradantes, que acontecem pelo mundo afora.
Nós, eu e o meu tio Robatto, também adoramos o Fernando Pessoa,
Gostamos de olhar as pernas das mulheres, a sua bunda,
E lembro-me que em 1976 ele escreveu um romance
Que levava o título de ““Raimunda Que Foi – Uma Estória da Bahia”,
Onde entre os personagens existia um andrógeno chamado Bernardino
Que a censura da época proibiu de chamá-lo abertamente de veado...
A nossa censura até hoje tem muitas veadagens embutidas nela!
A nossa censura até hoje tem muitas verdades enrustidas nela!!
O meu tio Robatto era isso e muito mais,
Sempre um homem e amigo que tinha gestos os mais naturais,
Amante das letras e das artes de uma maneira geral.
Ele foi o Pioneiro do Cinema na Bahia,
Quando, no final dos anos de 1930/40, ele já tinha rodado filmes
Em pequenas bitolas sub-stand, tipo documentários,
E pelas suas objetivas passaram cenas da velha Bahia de outrora, tais como:
Vadiação, Entre o Mar e o Tendal, Quando o Chico Foi Preso, Festa do Hawaí, Invenções, Carnaval, Exposição Pecuária – 1949, Caxixi, Favelas, V Exposição de Animais, S/A Wildberger, A Marcha das Boiadas, Pecuária Baiana – 1953, Igreja, Desfile dos Quatro Séculos, Xaréu, Ginkana em Salvador, Regresso de Marta Rocha, Águas da Bahia, Organizações Suerdieck, Um Milhão de KWA etc.
Por isto tinha muitos amigos, amigos simples e dedicados,
Todos eles seus velhos admiradores: Carybé, Mário Cravo Jr.,
Mestre Pastinha, Mestre Clarindo da eterna Cantina da Lua,
Carlinhos Bastos, Carlos Eduardo da Rocha e o próprio Jorge Amado,
E foi justamente o Jorge Amado quem redigiu algumas palavras
Sobre o meu tio Alexandre Robatto Filho, quando do lançamento
Do livro “Raimunda Que Foi – Uma Estória da Bahia”,
Ao denominá-lo de: “O HOMEM DOS SETE INSTRUMENTOS”!
Isto porque, embora fosse de formação somente um simples Dentista,
As suas habilidades de protético eram divinamente acompanhadas
Pelo conhecimento pleno da Literatura, das Artes Plásticas, do Cinema,
Que de uma maneira geral o meu tio Robatto dominava
Ao montar magníficas e inesquecíveis cenas
Com douta e sublime maestria!
Ah... Se eu pudesse falar das saudades,
Eu queria falar sobre as minhas saudades
Mas elas foram tantas e tantas
Que não sei se o coração terá forças para isto.
As minhas saudades são paraquedas fechados que caem
Em ridícula e rápida queda livre,
Espatifando-se estrepitosamente contra o solo!
É inútil, pois, falar das minhas saudades.
É verdadeiramente inútil tentar falar sobre as minhas saudades!
Os meus pensamentos sabem disso
E o meu espírito consente... quieto...
A quietude é a aprovação dos fracos
E eu não sou um fraco e se o fosse não me arrependeria por isto,
Também se me arrependesse de que me adiantaria?
Deixemos as minhas saudades às suas próprias deduções,
Sejam quais forem as deduções que advenham disto.
A noite vai embora devagar... devagar...
Algumas mulheres estão acordadas
E conversam pelos passeios das ruas,
Existem passeios na rua onde moro
Onde as mulheres conversam
E crianças gritam ao longe.
E estrelas brilham... bem longe!
Pouco a pouco o silêncio acomoda-se no espaço,
Pouco a pouco a solidão aconchega-se a cada passo,
Pouco a pouco a saudade comprime-nos com os seus laços,
Pouco a pouco a noite agoniza estremecendo-se nos nossos braços.
O silêncio noturno/a solidão noturna/a saudade noturna
A agonia de sempre!
A agonia da noite me traz angústias pelas janelas
A agonia da noite me faz ver espectros pelas janelas
A agonia da noite me enche de pavor e corro dela!
A agonia da noite é a agonia da noite
Nada mais que isto.
As horas passam vagarosas e imprecisas,
Dir-se-ia até que arrastam os seus chinelos
Pelos corredores vazios e compridos desta noite escura.
Lá foram passam passos apressados/cachorros latem/urinam
Carros trafegam/crianças choram/mulheres falam
Existe uma civilização dentro da noite,
Existe toda uma civilização dentro da noite,
Existe uma civilização neurótica dentro da noite.
E os analistas estão bêbados nos bares
E todos os analistas estão bêbados nos bares,
E todos os analistas estão bêbados em todos os bares!
Os minutos passam plagiando as horas
Fazendo-nos cometer erros de identificação.
Uma hora será um minuto/ou um minuto será uma hora?
Quem quebrou a ampulheta do tempo?
Quem virou a ampulheta do tempo?
Cadê o meu relógio, que horas são?
“_Ei por favor cavalheiro, o senhor tem horas?
Ah, não?... Tudo bem, muito obrigado”
As pessoas não sabem as horas
As pessoas não sabem das horas
As pessoas nada sabem sobre horas
ORAI PRO NOBIS!
Alguém toca a sineta...
Uma mulher coça a buceta...
A noite ainda agoniza,
As mulheres ainda falam e os cachorros latem
Existe vida lá fora!
Durmo de janelas abertas
Para que a vida respire plena por elas,
Para que a minha vida respire sempre por elas.
Alguém bate à porta... Ninguém bate à porta...
As portas batem sozinhas e assombradas dentro da noite,
As portas sentem medo do escuro, por isto se fecham.
As portas são como caramujos que se escondem dentro de si próprias!
O medo paralisa... O MEDO MATA!
Eu tinha medo das noites e dos seus silêncios,
Hoje eu não tenho mais medo das noites, nem dos seus silêncios.
Pior que o silêncio era o medo que eu tinha das noites.
Eu tinha medo do escuro. Eu sempre tive medo do escuro.
Eu sempre terei medo do escuro...
Por isto durmo sempre com uma das lâmpadas da casa acesa.
Eu até hoje não sei dirigir motocicleta!
Leio livros do Fernando Pessoa
Enquanto o Fernando Pessoa lê livros do Burns.
E eu não sei quem é este Burns, mas sei quem é o Fernando Pessoa,
Apesar de não o ter conhecido e nunca ter falado com ele.
A compreensão das coisas se faz
Através do conhecimento e da sensibilidade,
Sem as quais não poderiam existir compreensão alguma
Tampouco conhecimento e muito menos sensibilidade!
Compreendo a noite porque a conheço e à sua sensibilidade,
A noite existe para mim através da minha compreensão do escuro.
É através do escuro que conheço a noite
Enquanto me torno sensível a mim próprio!
O universo é vasto... A noite é muito maior que ele!
O medo é enorme... A noite é absolutamente maior que o medo!
A morte não tem retorno... A noite sempre volta!
O sono é igual à morte... Embora dormirmos todos os dias...
Tudo no mundo é feito de contradições e incertezas,
A própria noite é uma contradição e uma incerteza
A própria morte é uma contradição e uma certeza!
Há quem diga que a noite e a morte sejam uma só coisa
Embora a noite seja a noite e aconteça todos os dias,
Embora a morte seja a morte e não aconteça todos os dias!
O conceito é vasto...
A noite e a morte são maiores que ele.
A noite e a morte são absolutamente maiores que ele.
Os cientistas teimam em afirmar que não existe Eternidade,
Os padres e os poetas teimam em afirmar absolutamente o contrário!
Os cientistas explicam a noite e a morte cientificamente,
Os padres definem a noite e a morte como um castigo dos céus.
Os poetas caracterizam a noite e a morte romanticamente.
Os poetas escrevem versos maravilhosos à noite a morte,
Os poetas dedicam versos maravilhosos a noite e a morte.
Os poetas juram de pés juntos que eles sobreviverão à própria Eternidade!
Quem disse que a Eternidade existe?
O sono chega, a morte não.
Fico feliz por isto...
A noite funde-se com a madrugada e os grilos cantam
A noite funde-se com a madrugada e os meus sonhos dançam,
Enquanto os móveis antigos fazem sombras pelas paredes.
Há um vazio inexorável no espaço que a noite encobre,
Enquanto a humanidade dorme... agradecida!
É profundamente metafísico falar nisso nestes momentos
Devido ao adiantado da hora.
A noite transcende... A metafísica não.
Existe metafísica bastante na transcendência,
Somente a noite é que não se dá por isto.
A madrugada acontece fria e silenciosa
Como fria e silenciosa são todas as madrugadas.
Os nossos complexos e dúvidas do Espírito vêm à tona
Fico neurótico. Não fico neurótico. Sou neurótico!
Estou calmo...
Estou aparentemente calmo enquanto a neurose da vida
Envolve-me gradativamente.
Pressinto a neurose na minha insegurança.
Na minha depressão e angústias... Tomo café.
Os sentidos em mim se despertam... Fico tenso!
Sinto falta de ar. Não sinto falta de ar.
A insônia é atroz... Transpiro.
Estou nervoso. Sinto que estou nervoso.
Levanto da cama e sinto a vertigem tomando conta do meu corpo,
Tomo Lorax com goles lentos de café... Vejo estrelas!
Retorno à cama e sinto o meu corpo flutuar
Como nuvem solta nos céus da madrugada
A insônia persiste. O corpo transpira apressado.
O coração bate descompassado... Taquicardia...
Bebo mais um gole de café... Nunca fumei cigarros.
Nunca fumei maconha por não saber fumar cigarros,
Pois nunca liguei para aprender a fumar cigarros
Decerto se aprendesse a fumá-los
Decerto já teria fumado maconha.
Nunca comprei um só maço de cigarros.
Nunca comprei um baseado de maconha.
Na Bahia nunca é necessário comprar maconha,
Pois tenho inúmeros amigos que fumam
E se eu tivesse vontade de fumá-la
É certo que qualquer amigo teria me dado um trago.
A minha insegurança faz com que eu adormeça com as luzes acesas,
Porém, estou neste momento acordado e lúcido.
Apesar de tudo, as luzes continuam acesas...
Absolutamente impossível conciliar o sono.
Sinto um lago frio e glacial dentro de mim,
Estou só...
Sinto uma sensação tremenda de desamparo,
Estou só...
Sinto uma necessidade tremenda e louca de suicidar-me,
NÃO ESTOU SÓ!
Busco no armário do banheiro mais tranquilizante
A fim de acalmar o meu Espírito,
E a exemplo do poeta e compositor Paulo Garcez de Sena,
Tomos dois comprimidos de Valium 10
Entre lentos e absurdos goles de café quente!
Sinto um choque tremendo e convulso dentro de mim,
Parece que o meu corpo biparte-se e a cabeça estala,
Esfacela-se... Parte-se em mil cacos de porcelana,
Fragmentando os pedaços do meu Eu.
Os pedaços de mim caem esfacelados e ruidosos pelo chão,
Junto os cacos arrebentados da minha Alma
Buscando colar com fita durex as partículas da minha esquizofrenia!
TADEU BAHIA - Autor, entre 25 a 29 de Julho de 1986.