Alma vazia
Flechas cortam o vento silenciosamente,
como pássaros velozes no escuro da noite,
personificando esperanças destoantes do alvo,
corroborando jogos de erros salteados,
na má sorte de passos à beira do abismo,
tristes fins para inícios desesperados,
aguardando a direção de uma bússola quebrada,
com pesadelos todas as noites caindo sobre mim,
gritos que ecoam no mais fundo de minh'alma vazia,
deixando lágrimas correrem sem destino para o oceano,
afogando-me em memórias de solidão vivenciada mil vezes,
à cada agonia de um canto suave esquecido na madrugada...
Garrafas explodem na sarjeta de esquinas soturnas,
como coquetéis-molotov de guerras sempre derrotadas,
escombros de vidas observadas em páginas amareladas,
entoadas em escritos poéticos borrados à lápis e nanquim,
equilibrando-se em fios de arame esticados entre arranha-céus,
espantando a vertigem com meus olhos fechados,
passos vacilantes tateando o abismo de mim mesmo,
esperando uma queda certeira que me tire o último suspiro,
da melancolia de vãs ilusões cultivadas em romances de cavalaria,
para arrancar-me a venda à porta de um prédio em chamas,
deixando-me arder em meu próprio inferno de sentidos,
como um anjo caído sem asas merece encontrar seu porvir...