Visita inoportuna
Que direito tem você
Vir aqui junto de mim
Me trazer sua tristeza
Me molhar com suas mágoas
Me falar do seu desgosto
Que direito tem você
De achar tudo desgraça
E afugentar a graça
Suspirar no meu ouvido
A bufar esse “ai meu Deus”
E enxugar-se no meu ombro
Que direito tem você
De falar no seu azar
E achar que mete medo
A fazer parar meu mundo
Com seu tédio, sua fossa
Tudo é tão deprimente
Que direito tem você
De pedir o meu conselho
De pedir o meu consolo
E eu pressinto
A pensar que eu consinto
A pensar que também sinto
Que direito tem você
Vir aqui me acordar
Vir aqui e enxotar
Toda a minha euforia
Atrapalhando uma vez mais
Os meus sonhos e os meus planos
Sai de mim, pessimismo!
Hoje eu só quero alegria!!!
Rio de Janeiro, 3/4/1976