VESTIDO DE TRAPOS
Com pouca claridade em seu quarto, se ouvia notas agudas de um piano,
A bailarina pálida girava sobre o espelho de uma caixinha,
As cortinas levemente agitadas faziam lembrar que o tempo passava por ali,
Os cabelos ainda desajeitados como a hora em que levantou de sua cama,
E olhar aparentemente fixo na bailarina, que na realidade fugia entre pensamentos,
Evidencias dos pesares de um coração dolorido,
Um castelo de ruinas, onde princesas e príncipes se vestiam de trapos,
E as paredes geladas serviam de ouvidos sem contestar,
Eram as prisões de uma razão que não sabia explicar,
Era o ar que não sabia ventar,
Era o sol que não sabia esquentar,
Tatuando um olhar em frente ao espelho, sem destinatário,
A bailarina ia diminuindo o ritmo e as notas agudas iam se dissipando,
Mas o coração, ah... o coração queimava,
Em seu fogo se afogava, e na garganta engolia seco,
Com a caixinha já parada, as cortinas dançavam em silencio absoluto,
Lá fora, nuvens encobriam o céu como nos meses de maio,
As folhas pelo chão eram empurradas pelo vento,
Elas reclamavam delicadamente pelo solo,
Debruçado sobre a madeira daquela janela uma gota salgada escorreu,
E de olhos fechados uma oração subiu aos céus,
E sem ver o que acontecia, anjos colhiam as lágrimas,
E com perfume regavam seu coração,
Exalando pelo vento, em algum lugar havia outra janela,
Outro príncipe que vestido de trapos perfumava o coração,
E foi na canção da paciência e nos acordes de esperança,
Que o vento combinou aqueles aromas,
Que os anjos construíram um novo sorriso,
Que o sol voltou a brilhar.