O brinde

Estamos aqui mais uma vez,

eu e o copo de vinho compartilhando solidão,

destilando lágrimas de uma dor jamais curada,

queria apenas enterrar meus mortos e seguir,

ter meu luto, minha missa, minha sobrevida,

mas tudo se revolve em minhas recordações,

sua partida definitiva há um ano,

minhas tolas esperanças de um retorno,

e tudo o que me restou foi um brinde de silêncios...

Estamos aqui mais uma vez,

eu e as estrelas nesse céu de escuridão profunda,

imaginando contornos para constelações esquecidas,

queria apenas trancar meus fantasmas no sótão e seguir,

ter meu exorcismo, minha iluminação, minhas preces,

mas tudo se resume a ainda esperar o que jamais voltará,

sua indiferença sem respostas às minhas súplicas,

meus crédulos delírios de um recomeço,

e tudo o que me sobrou foi um brinde de tristezas...

Estamos aqui mais uma vez,

eu e as sombras de minha própria caverna,

refletindo sobre vãs filosofias desconexas,

queria apenas queimar nossas poesia na fogueira do tempo e seguir,

ter minha chama de liberdade, minha exaltação, meu furor,

mas tudo se aprisiona em memórias de despedidas ausentes,

sua frieza de sentidos e sentimentos findando o infinito,

minha embriaguez que procura fugir à realidade,

e tudo o que me serviu de consolo foi um brinde de tormentas...