Raiva
Eu queria abrir os olhos e nada mais lembrar,
ter uma amnésia crônica irreversível,
esquecer cada momento teu em minha vida,
dissipar teu perfume em meu travesseiro,
apagar teus olhos sobre meu sorriso,
escurecer a luz que trouxestes à minha caverna,
me ocultar no manto de um eterno silêncio,
ser como tu e não mais olhar para trás,
jamais me debruçar na janela esperando-te,
jamais ouvir músicas que me transportem a ti,
queimar cada pedaço de memória tua em mim,
porque de ti não tenho mais do que solidão,
não tenho mais do que tristezas imensas...
Eu queria abrir os olhos e não mais ver teu rosto,
esta imagem tão límpida em minha mente,
este tormento que me lança ao abismo toda a noite,
envolto em pesadelos de abandonos sem fim,
no frio de uma madrugada infinita de indiferença,
talvez para ti seja fácil seguir em frente,
deletar contas, deletar palavras, deletar pessoas,
talvez para ti seja fácil estar no topo da montanha,
e de lá observar o mundo em sua pequenez,
e eu nele muito menor que um grão de areia,
perdido na imensidão de um deserto de sentimentos,
tentando encontrar uma saída dessa prisão sem grades,
enraivecido por me deixar cair em tuas amarras...