Noturna
Não durma, meu bem,
Mantenha os olhos abertos
Para ver a noite que passa
Pelo mundo;
Para ver os homens e as mulheres
Que passam, pela sombra,
Encostados aos muros.
Veja todos eles,
De cabeças baixas,
Sussurrando palavras incompreendidas
Aos ouvidos da noite infinita.
Não durma, meu bem,
Nessa noite que
Se faz tão silenciosa
Nas bocas, quanto
Caótica nos corações.
Meu bem, ouça
O tiquetaquear do relógio
Posto na sala.
Ouça-o na sua igualdade eterna.
Não durma, meu bem, espere os seres
Que habitam as ruas
Irem para os seus ninhos de tijolos,
Porque a noite é construída
Sombra ante sombra,
E elas morrem, ali,
À beira da janela.