A sós com a Solidão
Quando a Solidão bateu minha porta, a dispensei. Não a queria em minha casa. Era desconfortante sua presença, me sufocava com seu silêncio. Mas insistiu em ficar. Logo, foi tomando lugar no sofá, ligando a TV, abrindo minha geladeira. Chorei, gritei, a mandei embora. Porém ela me olhou, fingiu se levantar, até deu algumas voltas lá fora, entretanto, lá estava só de meia na minha cama de novo a me esperar. Mandou cair fora os meus amigos, desfez amores, brigou com familiares, tirou máscaras de hipócritas. Eu a odiei, a queria longe dali. Ela me olhava indiferente e fingia não me ouvir. Pedi: “Por favor, saia daqui”.
No entanto, já não era mais dono daquela casa, era só um inquilino. Ela me acompanhava em todos os cômodos, dormia comigo, almoçava comigo. Anos se passaram e nos tornamos íntimos. E quando estava pronto para declarar meu amor, notei que ela foi se afastando. Outras pessoas foram se aproximando e ela foi permitindo. Cada vez ficava mais distante e isso me fazia mal. Agora não era sua presença que me incomodava, era sua ausência. Hoje, de vez em quando, fujo de todos. Sinto falta daqueles momentos de silêncio, só nós dois. Seu silêncio para mim se tornou uma doce voz reconfortante.