Solidão 2

Solidão 2

São negras memórias de brumas

que me assolam os pensamentos

e singram em mim destruidoras

nas noites de espessa solidão!

São uivos de ventos revoltosos

fustigando-me medos tenebrosos,

sacudindo meu ser de angústias

que me devoram em noites sem fim.

Ah, as amantes, de loucas raivas,

perdulando os vis amores fúteis

na ganância desesperada do desejo

insatisfeito e orgasmos possessivos!

Ah, as ninfas insaciáveis em cios

animalescos por linfas inférteis

que emprenham os esgotos das mentes

deturpadas de ciúme e enredos vários!

Que musas me inspiram agora versos,

versos que são esgares dolorosos,

que minhas mãos se negam débeis

a erguem as pesadas penas de alma?

Que poetisas me ciciam, docilmente,

hinos de amor e de beleza infindos,

se feneço nas odiosas redes de ódio

de mostrengas bruxas adúlteras?

Quantos versos escrevo inutilmente

na insípida volúpia do desespero,

e por fraca inspiração se desvanecem

em líricos grasnados de bruxas sujas?

Que lamentos fertilizam as vãs dores

e me decepam toda a vontade de viver,

sendo apenas arabescos dos ocultos

e poções trágicas, de fel e veneno?

Calai-vos, ventos! Ide ao inferno,

e trazei-me chamas apocalípticas

que consumam meu corpo sem valor,

mas afastem de mim o frio de agonia!

Ide, brumas! Ou, então, agonizai comigo

em labaredas das paixões da derrota,

Devorai, também, meus senis escritos

e libertem a minha alma para sempre!

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Poeta sem Alma
Enviado por Poeta sem Alma em 29/10/2016
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