Sua sombra pálida ainda me acompanha

Sua sombra pálida ainda me acompanha

Aqui sento eu, junto às árvores e os espíritos da floresta

Um frêmito vem da pálida fogueira, da fraca chama que ali resta

Esta noite o amargo vinho que bebo, é o da saudade

Que visões evocariam eu neste cenário, de pura vontade

Suplicam as labaredas em meio aos sopros dos ventos noturnos

Assoviam os vertiginosos ares em meio o fogo soturno

Num dançar flamejante, as luzes desenham as sombras

Num farfalhar lânguido as faíscas fazem vivas as alfombras

Num súbito animar do ar, uma ventania chega cativante

Num submisso animar do fogo, um espetáculo sibilante

Num provocar das sombras, sobre a terra cândida

Num protagonizar das sombras, sobre a água límpida

Eis que tu me apareces, à beira do lago que sonha olhando o céu

E que lago é este? Tão raso e ebúrneo, que lhe serve de mausoléu

Se as 7 lágrimas fluem num rio, quantas formam o lago?

E como se formam estas montanhas de cristais-drago?

Que protegem a sua pálida imagem encerrada nas águas

Aqui desfiro as mais puras juras de bem-querer, e me atiro em direção d’água

Antes queimo os pés na fogueira, que levanta cinzas

Antes sujo os pés de uma terra vermelha, que serve de tinta

Antes os ventos me precipitam a ela

Antes as águas se petrificam, fora dela

E então vejo seu rosto no fundo do lago gélido

E então vem o pesaroso despertar tão temido

E então recobro os sentidos da saudade

E então descubro em meio à sobriedade

Que é o vinho, que faz sonhar

Sonhos tão estranhos, sonhos de desejos de relembrar

E com a sanidade recuperada, e com a fogueira já apagada

Vou-me embora, não sem antes uma última faísca bem iluminada

Seguir-me os passos, e apresentar A Sua Sombra Pálida que Ainda Me Acompanha