Cão raivoso
Entre nesse vale de solidão,
onde reina uma tristeza revolta,
finja que a casa é sua,
não se faça de rogada,
mas lembre-se de que não esqueci nenhum dia,
os tormentos que meu espírito sofreu,
os gritos que enlouqueceram minha mente por semanas,
a dor que me consumiu à cada mês,
esmurrando cercas de arame farpado,
queimando meus pulsos na fogueira da ilusão,
desejando sua volta à cada segundo,
para ver meu sangue esvair-se com a esperança,
não espere que agora eu a receba calorosamente,
meus silêncios deveriam tê-la advertido,
a ausência do meu sorriso transmutado em seriedade,
minha ironia ao invés de poesia,
não vou baixar novamente minha guarda,
não vou deixar que me leves ao abismo de novo,
meus segredos já lhe pertenceram um dia,
agora estão trancados no fundo de minh'alma,
minhas verdades já foram todas suas,
agora sou apenas uma sombra amaldiçoada,
não espere desculpas por meus erros,
continuo o mesmo orgulhoso de sempre,
um cão raivoso sem motivos ou brilho no olhar,
ainda sou o teimoso que jurastes amar,
aquele à quem prometeste eternidade,
meras palavras de quem jamais nos deu valor,
por isso não derrames sobre mim suas lágrimas,
quem virou às costas ao que sentíamos foi você,
foi você, apenas para fugir de sua própria fraqueza...