Tornozelos Cortados

Corte os tornozelos e deite-se no chão

Passarinhos na gaiola anunciam o verão

Perceba que todas as abelhas já partiram

Enquanto a poeira em sua boca se amontoa

Você carregou o peso desse mundo idiota

E até sangrou um pouquinho por mim

Agora toda porcaria que me deu apodrece

Em uma velha caixa no sótão, ou será no porão?

Quando foi que você desistiu?

Faltou amor? Faltou alegria?

Faltou a vontade de viver?

Por favor, não fale

Fumaça, regras e brasas apagadas

Nós devoramos as pedras intragáveis

Haviam tantas delas, impossível de contar

Não tínhamos o direito, muito menos a coragem

Logo esse livro chato irá chegar ao seu fim

O que fizemos com todo esse tempo maldito?

Enchemos a barriga de prozac e seco capim

Enquanto os tornozelos ainda ensopam o chão

Quando foi que você desistiu?

Faltou amor? Faltou alegria?

Faltou a vontade de viver?

Por favor, não fale

Lá no fim haverá luz?

O amor ainda me falta

Acho que sempre faltará

Do que eu ainda tenho medo?

Da luz que me machuca ou da solidão que me sufoca?

Há um inferno para os covardes

Diga-me como alcançá-lo

E estarei lá

Para sempre

E todo o sempre

Lá.