Entorpecer
Turva manhã acorda,
espreitando rostos tristes,
na mágoa de cada sentimento,
remoendo pegadas em terras estrangeiras,
corações quebrados como cristais lançados às rochas,
apenas seguindo, seguindo, seguindo a sinalização do asfalto,
trocando de pele como um camaleão do deserto,
escutando os pingos contra o párabrisa,
segurando o volante como à uma bóia salva-vidas,
buscando entre paisagens e memórias sair do tormento,
apenas esperando, esperando, esperando um novo dia,
vidas tortas dedilhadas em canções esquecidas,
melodias de um violão perdido em escombros,
deixando fragmentos de quebra-cabeças de costa à costa,
para abrir velas em um mar de ventos furiosos,
deixando o veleiro singrar ondas revoltas,
exibindo emoções controversas de tempos pretéritos,
apenas tentando, tentando, tentando afastar a tempestade de ideias,
essa dor lascinante que sobrepuja todo um ser inconstante,
boxeando em um ring de ilusões incomensuráveis,
no entremeio de razão e loucura crônica,
socando o ar como um pugilista cego,
nessa entorpecência da alma e do corpo que enebriam os sentidos,
quando acordar seria a única viabilidade possível...