Vagamente

Estranho é este vazio que perdura em ser nada,
Este querer que anseia em não mais desejar.
Esta distância que me faz escravo de minha própria presença.
Não há um objetivo, não há o que deveria haver, sei que não há.
Reconheço existência pela própria negação do existir.
E então me torno filho de um sorriso que não tenho,
Sinto o peito apertado por um coração exausto,
E o ar fica escasso e a bioquímica do corpo encarcera a alma.
E alma é tal como poeta que finge estar,
Mas vive fugitiva, pois que não quer encontrar-se,
Pois que o prazer talvez esteja na liberdade da fuga.
Pois toda consciência estabelece limite,
E o anseio é mergulhar no Todo,
Não sendo único, mas mantendo-me eu mesmo.
Loucura, insanidade de mim, pouco importa.
É um mundo atrás do espelho, são ilusões invisíveis.
O que vejo de mim é apenas parte,
O que sinto de mim é um todo que não entendo.
Toda razão é apenas prova da própria insuficiência,
Todo saber constatação de ignorância,
Altas montanhas, céus perdidos em luzes estrelares,
Luz que acolhe e que despreza a visão.
Hoje o silêncio esteve cheio, e eu o desprezei,
O farei quantas vezes quiser com minha falsa lucidez,
Pois que pouco posso e tenho o delírio de ser.
06/06/2015
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 02/08/2016
Reeditado em 24/11/2019
Código do texto: T5716612
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.