Breu noturno
Desististes de nós?
Despedistes de mim?
Apagastes todas as mensagens?
Deletastes a conta de email?
Trocastes teu número de celular?
Mudastes de residência no breu noturno?
Lançastes nossas memórias ao mar,
naquelas garrafas de vidro com mensagens,
levando um pedaço de mim para o naufrágio,
perdido nos maremotos das almas sem salvação,
no índigo azul de uma solidão profunda,
afogastes minhas esperanças de outro recomeço,
e nem ao menos por condescendência me avisastes,
esquecestes cada sorriso na curva do tempo,
ignorastes cada batida mais forte deste coração tolo,
invocastes a amnésia dos que não querem mais,
talvez seja mais fácil viveres sem quem nunca existiu,
sem lágrimas espreitando tuas insônias,
sem dores sufocando um espírito já cansado,
sem sustos tornando tua existência um rito profano,
sem percalços na longa estrada da vida,
sem derrapagens pela cordilheira dos sentimentos,
escolhendo apenas o "deixar ir" sem mais pensamentos,
partindo-me ao meio como um graveto abandonado numa floresta,
para salvar a ti mesma de teus medos,
para não precisar definir novas escolhas em tua vida antiga,
escapando a ti mesma por uma falsa saída imaginária,
para ver-te presa na areia movediça de teus próprios atos...