Par Solitário de Sapatos

O peito se abre para a noite,

os olhos se refletem na madrugada,

e enquanto as cicatrizes fecham o sangue ainda jorra.

O sangue ainda jorra.

O cigarro vai se dissolvendo para as estrelas,

as mãos se afundando na face gelada.

A madrugada chegou,

e não há nenhuma boa história a se contar,

apenas uma que tu já ouviu,

uma que tu já sentiu.

Essa mesmo, que nasceu para morrer,

Ou que não nasceu, mas morreu.

A arte imita a morte,

a morte imita a vida,

a vida imita o amor,

o amor imita a vida.

A vida segue para a morte,

o amor imita a morte.

Amor?

É vida.

É arte.

É morte.

É lágrima que arde ao rolar,

queima ao cair.

É cigarro que queima o peito,

e morre no sorriso do tempo.

É travesseiro gelado ao lado da cama.

É par solitário de sapatos ao chão.

É sorriso de memória.

É pranto de realidade.

É carícia do passado.

É fim de poema,

que acaba sem vida.