UM POETA CHORA
A vida escorre pelos dias
Como a água, sobre a rocha, escorre,
A noite cai escura e fria,
Qual escuro e frio leito de quem morre,
A lua brilha, com intenso brilho,
Dourando as gotas de orvalho no capim,
A brisa sopra, ao romper da aurora
A noite geme em seu amargo fim.
Em algum canto um poeta chora...
A relatar, em versos, seu dilema.
Quase em delírio fita-se ao longe...
(Talvez no amor que do porvir lhe acena).
E sobre a folha surgem, então, borrões
(São suas lágrimas que à tinta espalham)
E saem do peito versos e mais versos
Que, de tão tristes, ao seu sofrer os calham.
E nem o sol, com esplendorosa luz,
Tira das trevas o seu coração,
Aquele aceno de falaz promessa
Não o motiva a uma inútil ação...
Já tem no peito chagas e mais chagas,
Conhece a dor que brota do adeus,
Cair com a cruz n'outra desilusão
Talvez não seja um dos planos seus.
Mas é preciso levantar, seguir,
Chocar o peito contra o fio da espada...
Aos poucos os dias lhe carregam a vida,
Mas, fica, em versos, a dor eternizada.