O Esquecimento
Que fiques ciente
deste quadro aparente
suspenso e indiferente
aos tempos do verbo:
Tu fostes feita
De olhares, de luas e cores
Do acinzentado céu da boca
Que se mistura com o firmamento
Do enrugamento que água causa
Como o todo que você se torna
Entre um beijo e a recorrente pausa
Há o todo nos olhos que repousam
Na espreita correta de quem espera
A sudorese do espírito.
Quando o amor desfalece
Ele não morre, ele pena
Subitamente delegado a pena?
Sutilmente a sua alma empena
Na flébil passagem do tempo
Mas se esqueces...
Pela falta de procura
Pela alta da loucura
Pelo excesso da cura
Há algo que em mim apura:
O silêncio é feito de dor
Onde não há forças para braços
Entre os tempos que o verbo
Não consegue voltar atrás.
Deve ter pensado bem
Não há mais retorno
Quando chega o som da lágrima
Nem o peso da lástima
Talvez uma leve nostalgia
Do que já não se tem
Não é nem um porém
Quiçá um desdém
É simplesmente a alma
A compreender que soube viver sem.