Fala

você fala que sei

e, eu finjo que entendo

você fala o que eu falo

e, eu finjo entender

você fala ao vento

eu murmuro às portas

minhas portas fechadas

punhos cerrados

dor incerta e preciosa

que me corrói feito cirrose

mata aos poucos de

forma quase imperceptível

na janela a sombra produzida

pelo sol

não revela nenhuma grandeza

você torna a falar

sua fala se mistura com ruídos

sua fala contém microfonia

é aguda e horrenda

e, eu finjo ouvir,

finjo temperar amor e ódio

azeite e vinagre

que são imiscíveis

você fala,

e tuas palavras ricocheteiam

ao léu

nuas palavras ressoam

em minha indiferença

queria lixar as unhas

queria apagar o abajur

fechar as janelas

abrir os pulsos cerrados

na expectativa do golpe

meu corpo tenso e teso

é samurai mumificado

à espera de guerrilhas, guerras,

batalhas de indiferenças

e iniquidade

para quê tudo isso?

por que não partir?

haverá civilidade em toda

essa hipocrisia

não, há apenas

palavras disperdiçadas

e diálogos impossíveis.

há som sem semântica.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 10/07/2007
Código do texto: T559241
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