Ecos

Alguém, há alguém que se importe?

Olho para a janela e vejo milhares de luzes no bairro,

cada um preso em sua pequena árvore de natal,

surdos aos ecos de suas próprias vozes internas,

indiferentes ao sofrimento que vive em cada sombra,

insensíveis aos sentimentos derramados na sargeta da vida...

Apenas ecos, ecos de barulhos inaudíveis,

no topor de almas anestesiadas por suas ausências...

Alguém, há alguém que se preocupe?

Olho para as ruas vazias na meia noite de uma urbanidade cínica,

cada um esquecido em sua vaidade de vitrine de shopping,

cegos às visões de suas próprias essências perdidas,

impiedosos ao sussurro que lhes sopra as verdades,

inócuos às mãos que se estendem congeladas no inverno da vida...

Apenas ecos, ecos de sinos sem igrejas,

no descampado de ruínas invisíveis a olhos fechados...

Alguém, há alguém que consiga sentir?

Olho para cada rosto sem expressão no vai e vem dos dias,

cada um seguindo sua individualidade no roteiro do egoísmo,

mudos às situações injustas que lhes caem aos pés,

impassíveis em julgamentos sem solidariedades,

incrédulos em qualquer fé que os humanize nos dilemas da vida...

Apenas ecos, ecos de silêncios musicais,

no cantarolar distraído de um esquecimento intencional...