NAUFRÁGIO

(Por Aglaure Martins)

Velejo nesses ventos que desalinham pensamentos,

onde o sol nunca nasce e a lua sempre míngua.

Velejo em todas as entrelinhas entrecortadas

no fio da navalha que decapita minha língua.

Velejo onde não há sopro leve, onde a brisa fere

e queima a lágrima insone que na alma padece.

Velejo nos silêncios meus, em todos os breus,

nos recônditos enclausurados onde a dor se recolheu.

Velejo ainda nesse imenso deserto concreto,

nos lábios de valas e vales incertos,

onde a palavra não é dita, onde sangra a ferida

que o tempo ofertou e como praga prosperou.

Velejo à deriva, sem nau, sem leme, sem rota,

sem esperança da vitória, sem a moldura do sorriso.

Velejo só num mundo que nunca foi meu...

Velejo nas correntezas que correm p'ro precipício.

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JP21022016

Aglaure Martins
Enviado por Aglaure Martins em 21/02/2016
Reeditado em 21/02/2016
Código do texto: T5550008
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