NAUFRÁGIO
(Por Aglaure Martins)
Velejo nesses ventos que desalinham pensamentos,
onde o sol nunca nasce e a lua sempre míngua.
Velejo em todas as entrelinhas entrecortadas
no fio da navalha que decapita minha língua.
Velejo onde não há sopro leve, onde a brisa fere
e queima a lágrima insone que na alma padece.
Velejo nos silêncios meus, em todos os breus,
nos recônditos enclausurados onde a dor se recolheu.
Velejo ainda nesse imenso deserto concreto,
nos lábios de valas e vales incertos,
onde a palavra não é dita, onde sangra a ferida
que o tempo ofertou e como praga prosperou.
Velejo à deriva, sem nau, sem leme, sem rota,
sem esperança da vitória, sem a moldura do sorriso.
Velejo só num mundo que nunca foi meu...
Velejo nas correntezas que correm p'ro precipício.
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JP21022016