Sexto

Jamais o primeiro,

bati em tantas portas,

todas fechadas sem respostas,

escrevi tantas cartas,

nunca houve um retorno explicativo,

continuo respirando apenas para esperar,

continuo existindo apenas para te encontrar,

jamais o segundo,

atravessei tantas pontes,

nenhuma levando a qualquer lugar,

abri tantas janelas,

todas voltadas para muros altos de tijolos,

continuo sobrevivendo na guarda da esperança,

continuo me mantendo firme apenas para te dizer,

jamais o terceiro,

corri em tantas pistas,

sem pódios que me quisessem premiar,

superei a barreira do tempo,

sem cronômetros que conseguissem me marcar,

continuo enfrentando as intempéries olhando para o horizonte,

continuo sobrevoando montanhas geladas para te abraçar,

jamais o quarto,

destranquei fechaduras sem chaves,

sem encontrar tesouro algum,

estilhacei vidraças completas,

sem me cortar nos cacos de vidro derramados sobre mim,

continuo com sangue quente nas veias,

continuo sentindo a pulsação que me indica seu rumo,

jamais o quinto,

nadei por rios de fortes correntezas,

sem chegar às margens da segurança,

me embrenhei por matas fechadas,

sem encontrar fadas ou duendes com potes de ouro,

continuo com meu coração batendo loucamente,

continuo com essa teimosia que não me solta,

sou apenas o sexto,

o sexto a chegar,

o sexto a sorrir,

o sexto a perceber,

o sexto a proteger,

o sexto a sentir...